A menina que matava caracóis

Filosofias úteis, inúteis e outras coisas que você pode não precisar.

Arquivo para a categoria “Historinhas”

Edição Especial – Redação 02

Após ler uma das redações selecionadas como uma das melhores do vestibular de 2003 da Unicamp, tomei a liberdade de postá-lo aqui no blog! A narrativa é de autoria do Marcos de Campos Visnadi. Para melhor compreensão dos leitores, explicarei a proposta, ok? Tudo o que está aí é oriundo do livro Vestibular Unicamp – Redações 2003, da Editora Unicamp. Ah, claro: e foi transcrito exatamente como apresentado no livro. 🙂 Façam bom proveito.

Obs. pessoal: Foi a narrativa mais LOUCA que eu já li na minha vida! Parabéns, Marcos!

PROPOSTA

No século XXII, um cientista resolve criar “o homem perfeito”. Para tanto, desenvolve um “acelerador genético”, capaz de realizar em pouco tempo um processo que supostamente duraria milênios. Aplica o engenhjo a um pequeno número de cobaias humanas, que, à idade propícia, são inseridas na sociedade, para cumprirem seu “destino”. Dessas cobaias, uma suicidou-se, outra tornou-se um criminoso, outra, presidente da república. A quarta é você, a quem cabe atestar o êxito ou o fracasso do experimento.

 

REDAÇÃO 02
Marcos de Campos Visnadi

Xurumbregoso

 Ó, é o seguinte: ninguém merece essa vida. O bofe vem com uns papos de “sociedade evoluída” e o escambau e dá no que dá: um é mais pior que o outro! Depois que o Alfredo III foi eleito com unanimidade de votos cá em Nova Pangéia do Oeste foi que eu percebi que não havia mais esperanças para os experimentos do velho Tadeu; mas como se pode esperar que seres como nós, que passaram a primeira vida toda tomando injeções semanais, sejam perfeitos?

Nós fomos soltos no dia (13/05) em que completamos 18 anos. Idade estratégica: cidadãos completos, poderíamos comprar pornografia e bebida alcóolica sem problemas. Alfredo II tropeçou em frente a uma biblioteca e, depois que ele começou a nos contar, descobrimos por que nunca nos deixaram ler Clarice Lispector no laboratório de Tadeu: denso e espiral, A2 caiu dentro de si numa angústia sem fim, cada vez mais hard. Entrou numas machadianas, Dostoievs, Manuel Bandeira e não deu outra: encontraram-no na piscina de seu apartamento com uma cópia do Tabacaria do Álvaro de Campos atravessada na garganta e a artéria ejaculando freneticamente o seu sangue fosforescente até a última gota.

Às vezes eu acho que sei onde o Tatá errou: ele deveria de ter acompanhado-nos de perto após a nossa soltura, e não deixado todo o serviço para sua sexagenária secretária ninfomaníaca para ir se embebedar em Barcelona. O Alfredo IV que o diga! Viciou no sexo bizarro, uma vez sem aorientação do Doutor, e terminou preso em flagrante pela Nova Polícia ao violentar galinhas gigantes numa granja transgênica alhures. Coitado… esse sim teve um fim triste. Foi capado e depois sufocado com seu próprio genital. Pena pra quem estupra. Ficou sem galinha e sem pinto, o pobre A4.

Eu, da minha vida, quando lembro meus companheiros, queixar-me não posso. Vivo até que bem com os trezentos reais pink semanais que a vida de michê-fashion me proporciona. Tenho cá os meus contratempos (a NP, o sindicato, um ou outro cliente violento), mas mil vezes os meus pepinos que os do A3, que tem que controlar os ânimos da NPO, com seus separatismos e epidemias de DSTês. Não que ele não receba propina suficiente para isso. Recebe até por demais! Acho que de nós quatro foi quem se deu melhor. Mas não o invejo, que eu também estou joinha. Superfashion.

Tipo assim: vendo agora, pensando bem, eu tenho dó é do Tatá. Ele sonhava fazer um superbem enorme pra toda a humanidade mas não conseguiu.

Se me perguntarem (perguntam?) eu digo que o problema dessa papagaiada toda está logo na raiz do experimento. Ele queria melhorar o homem, mas o homem não melhora! Não mais. Ele é isso e pronto.

Talvez a perfeição do homem implique justamente (e principalmente) nos seus muitos defeitos, nas duas neuras, nos seus desvios, na sua corrupção.

Sei lá!, que sei eu?, pensar cansa. Vai ver não é nada disso. Vai ver o problema é o homem.

O Tadeu que faça a experiência com mulheres da próxima vez. Aí sim…

Obs.: Isso me lembrou uma coisa.

O banco

Um banco de tábua torta
São Paulo dos anos 40
Folhas secas em volta
Uma rua asfaltada e poirenta

Um banco de tábua torta
Uma calçada de pedra para sustentar
A gente que passa é porca
E faz uma papelzinho magenta a visão atrapalhar

Um banco de tábua torta
Um ônibus branco a passar
Vejo tudo por uma porta
Que transita branco, dourado e vidro em meu olhar

Um banco de tábua torta
E ninguém pra sentar no banco

O lugar perfeito

Imagine um lugar perfeito.
Hm.
Aonde é?
Qualquer lugar.
Qualquer um?
É.
O quê o torna perfeito?
Duas pessoas.
Quem?
Minha irmã e um menino.
Esse menino é da sua família?
Não, é meu namorado.
Hm… Na vida real, vocês estão juntos?
Não.
Porquê?
Porque meu pai não gostou dele e os pais deles não gostaram de mim.
Porque seu pai não gostou dele?
Porque ele é idiota.
Ora, deve ter uma razão.
Meu pai nunca gostou de mim. Ele sempre me bateu e, me pôs de castigo sem razão aparente. Só não suportou me ver feliz.
Entendo… Concorda que o que torna um lugar tão especial não são apenas as pessoas?
Como assim?
Sua irmã e seu namorado podem estar brigando nesse lugar qualquer?
Não.
Então, o que você mais quer pra esse lugar?
Paz.
Paz de espírito? Paz no mundo?
Não. Só paz.
Só isso? Nada mais?
Só.
Então você vai dormir em um, dois, três!
Ela dormiu, acordou de manhã, ao lado da irmã. Estava muito feliz, pois sonhou com o lugar perfeito. Então, viu que seu namorado todavia não era seu namorado e que ainda morava na casa do pai. Simples e pura hipnose. A vida nunca foi fácil. E isso não foi baseado em fatos reais. Pelo menos, assim espero eu.

Fato verídico

(Aê, aê! Neve caindo no blog! 😀 Mas só fica disponível até  quatro de janeiro. Ah, eu queria tirar a decoração de Natal no dia que a gente tem que tirar mesmo – ou seja, no dia dos três reis magros magos, mas eu não lembro se isso é dia dois ou seis. ‘~’)

(http://www.formspring.me/blogdaletii. Me perguntem, aí. XD)

Hm, acho que vou excluir algumas imagens do meu celular… Imagens… Apagar… Legal, agora é só marcar as imagens que eu quero que fiquem…

 

*marca imagens*

 

*aperta botão*

 

:O OH, MEU DEUS! ERA PRA MARCAR AS IMAGENS QUE EU QUERIA EXCLUIR!

 

Celular: Imagens apagadas!

 

 

  

As maçãs da rua LoVe

Olá, gentinha lindinha! Desculpem-me por demorar pra postar é que, como diria um certo melhor amigo meu, eu estava uma bussiness woman durante esta semana. Bem, eu não sei extamente sobre o que postar hoje. ‘-‘ Tenho algumas ideias, mas estou com preguiça. ¬¬’ Hm, que tal um poeminha? Ok, será um poema meu. Um dos meus preferidos.

 

 

As maçãs da rua LoVe

Era uma noite fria.
As maçãs da árvore da calçada
Reluziam à luz do luar,
Tornando-se unicamente coloridas
Em meio àquela escuridão.
Talvez, aquela rua realmente quisesse ficar sozinha,
Mas eu atrapalhei sua solidão.
O vento machucava meus lábios
E nem mesmo o céu me roubou a atenção,
Naquela noite…
Minhas mãos não se importavam em enxugar minhas lágrimas,
Mesmo que estivessem fortes o bastante para isso.
Meu corpo postava-se à beira da calçada,
Provavelmente, numa falsa esperança.
Eu realmente queria ter ficado mais dez minutos lá.
Eu queria ter tido outra chance de ver as estrelas,
Mas, desta vez, sem você.
Contudo, não houve tempo.
Uma luva preta me tirou as lágrimas de uma forma agressiva.
Cobriu metade do meu rosto
E eu não pude respirar.
Senti as grades do portão resfriarem minhas costas.
Defloração*.
Dor.
Fui atirada ao chão.
Meus cabelos dançaram com a pedra fria da calçada.
Foi então que minha cor juntou-se às maçãs,
Num vermelho perfeitamente líquido.

16:42          17.06.2009

 

*Para aqueles que não sabem, defloração é desvirginação.

É, não é muito legal, mesmo.

Beijinhos,

Letii

 

A menina do guarda-chuva

Ôôôi! Hoje, voltaremos à sessão “historinhas [macabrazinhas – é só dar uma olhada no final do João Felpudo] da vovó da Letii”! E, apresentando agora A menina do guarda-chuva!

Era uma vez, uma menina que ganhou um guarda-chuva de presente. A garota gostou tanto dele que levava a droga do guarda-chuva ABERTO pra tudo quanto é lugar, não importanto se estava sol, chuva, neve, tempestade de areia (?), chovendo granizo, dia, noite, etc. Além disso, era guarda-chuva em casa, na escola, no restaurante, na roda gigante e onde ele coubesse ou não. Como a menina era muito magrinha, sua mãe vivia dizendo: “Minha filha, para de levar esse guarda-chuva pra onde não precisa e quando não precisa! Um dia, vai bater um pé-de-vento e você vai sair voando e a gente nunca mais vai se encontrar!”. Mas a garota deixava entrar por um ouvido e sair pelo outro. Até que no tal “um dia“, bateu um ventão, a menina de guarda-chuva aberto, a menina saiu voando e ninguém nunca mais encontrou.

mary-poppins-mv03
Quem sabe? Ninguém nunca mais encontrou mesmo.

EU NÃO DIIIIIISSE QUE ERA MACAAAAAAABRA?

Beijinhos,

Letii

João Felpudo

Além de um nome engraçado, João Felpudo é uma história do tempo da minha avó – que ela me contou hoje. õ/. Seguinte:

Era uma vez, um menino chamado João (óóóóóó! ¬¬’). João não gostava de tomar banho, cortar as unhas e os cabelos. Por mais que sua mãe insistisse, João se recusava a fazer sua higiene diária. Para assustar o menino, ela dizia: Menino, você vai ver! Um dia, o alfaiate vai aparecer aqui na cidade, com a tesoura grandona que ele tem, e vai cortar as suas unhas e o seu cabelo!. Mas João nunca ligou muito pra isso. Aconteceu que o bendito do alfaiate apareceu e João foi correndo pra casa e ficou quietinho. A mãe percebeu o comportamento estranho do filho e acabou descobrindo o porquê. Então, enquanto João dormia, ela chamou o alfaiate que cortou o cabelo do garoto bem curtinho e suas unhas. Quando João acordou e se viu daquela maneira, o alfaiate – que ficou fazendo não sei o que lá na casa do moleque (hmm, eu acho que ele ficou com a mãe do Joãzinho… E os dois beeeem acordadinhos. Hum, hum? *levanta as sobrancelhas duas vezes*) – lhe disse:

Olha aqui, se você deixar seu cabelos crescer tanto daquele jeito, eu volto aqui e corto muuuito mais curtinho. E se você deixar de cortar as unhas, eu vou arrancar todas – tanto dos seus pés quanto das suas mãos. E se você não começar a tomar banho, eu volto aqui e esfolo você com uma lixa até sai sangue!

Nem preciso dizer o que fez o joãozinho desse dia em diante, preciso?

felpudo
Óun, ele também é felpudinho. ^.^ (mas ele toma banho… querendo ou não. ‘-‘)

P.s.: Violência? Magiiiiiiiina. *meeeeedo. MUITO medo!* Ah, pra quem ainda não se tocou, é João Felpudo porque ele deixou o cabelo crescer bastante, tá? 😉

Anti-contos-de-fadas

meu fracasso

E enquanto a minha mãe falava comigo, eu chorava de soluçar. Porque parecia que aquilo me entristecia mais que a qualquer pessoa. Eu já havia tentado aquilo há tempos. Tentado ser uma melhor ouvinte e ter mais amigos. Eu achava que tinha conseguido ao menos uma parte disso. Mas, como ela não tocou mais no assunto, pensei que não havia problema em não ter alcançado meu objetivo. Acontece que ela tocou nesse assunto, hoje. E eu senti que havia fracassado. É disso que eu tenho medo. Do fracasso. Mas eu tenho muito medo, e quando eu digo muito, é muito mesmo. Principalmente por causa do meu outro medo: o de me arrepender.

Fiquei muito triste, isso realmente me pegou de jeito. Depois da conversa, fui chorar no banheiro porque não conseguia parar. Lembrei-me dos três piores meses da minha de meros quinze anos. Singelos. Três meses mergulhados em uma panela de depressão fervente. Eu havia fracassado. Nos três meses, eu não contei àquele garoto que gostava dele – apesar de repetir milhares de vezes que o faria. E ele passou a namorar outra menina, e eu fiquei em casa, presa à minha cama, fracassada. Hoje, isso não me parece muito grande, mas eu me senti muito mal naquela época. Tentei me alegrar com algumas frases e me lembrando de momentos felizes, mas não funcionou.

Eu, decididamente, tenho amigos. Mas ela quer amigos que estejam mais perto de mim. Não de outrras cidades ou escolas. E eu não quero. Porque eu gosto dos que tenho.

Eu chorava e imaginava o rímel correndo líquido pelas maçãs do rosto. Sentia o guardanapo desfazer-se em minhas mãos, molhado pelas lágrimas. Podia perceber o batom sumir nas faces de meus lábios e minhas mãos enfraquecerem ao exugar aquela tristeza. Não foi uma cena muito legal, definitivamente.

Se vocês esperavam um final feliz, sinto em dizer-lhes que, se há de haver algum, ainda não chegou. Mas não percam a esperança, isso já me ajudou muito. Mas, por enquanto, é isso. Só isso. Não insistam.

O conto da garota com mente própria

Em primeiro lugar: desculpem-me abandonar vocês. É que eu fui viajar. -.-‘
E
m segundo lugar: há, no final do post, um aviso. Leiam-no.

 

saita

 

 O conto da garota com mente própria

Era uma garota de cabelos castanhos e frizados. Em seu rosto, somente um batom. Não era gorda, mas também não era magra, somente  um pouco acima do peso. Não conhecia várias “línguas” e nem queria conhecer: não gostava de aprender sob pressão. Não era popular, mas tinha seus amigos.

Ela gostava de azul, de legumes, de acampamentos escoteiros, de fazer o que lhe convinha e falar o que lhe vinha, mas com respeito ao seu próximo. Também apreciava MPB, funk nem pensar. Pop dance era bom pra se remexer e rock, só pra escutar.

Não curtia futebol, saias-cinto e nem era noveleira, preferia ler um livro.

Uma noite, a menina e sua escassa maquiagem foram à uma festa. A menina não bebeu nem se drogou. Tampouco distribuíu bocas por aí. Ela saiu, (antes de a festa acabar) encontrou uma garota: cabelo lisérrimo e loiro osfucante, piercings em tudo quanto era lugar, saia curta, regatinha e unhas cor-de-rosa; barriga de fora, maquiagem carregada. Era um robô.

 Noutro dia, a garota com mente própria se levantou e foi trabalhar. Já a menina aloirada se levantou às três [da tarde], comeu pão com mortadela e esperou até à noite. Tomou um banho, colocou sua saia e sua regata, um salto alto pra combinar. Pegou a bolsa e foi até a esquina. Voltou às três.

 

AVISO: não tive qualquer intenção me ofender ou me referir à alguém neste texto. Que fique claro que, se alguém vier reclamar comigo, estará se auto-julgando robotizado, padronizado e sem personalidade, ok? (*fala isso com um sorriso no rosto, só pra parecer mais curel.* >_<“). Além disso, nem todas as pessoas que têm essas características são desse jeito. 😛

Beijinhos,

Letii

Azul

el-alegre-rostro-de-la-pobreza

Parou na porta do açougue, com seu poodle na coleira. Estava esperando sua irmã comprar as coisas para sua mãe. Percebeu, então, uma presença com um tom chamativo. Era uma senhora vestida em roupas meio esfarrapadas e de cabelos brancos, carregando umas duas sacolas plásticas, que postava-se à outra ponta da porta. Era baixa e de pele enrugada. Mas uma coisa, e somente uma, chamou a  atenção da garota: os olhos azuis. Aliás, muito azuis. Eram profundos… Esqueceu-se da irmã e do cachorro, ficou tentando decifrar o mistério dos olhos da senhora. Ela parecia preocupada, triste. Parecia procurar alguma coisa. Um pouco de comida? Um amor perdido, talvez? Ficou lá. Quando a senhora olhava também em seus olhos, a menina desviava o olhar, mas só às vezes – pois, cada vez que aquela senhora a olhasse daquele modo era uma chance para descobrir o porquê daquele azul. A garota podia jurar que aqueles dois lagos buscavam algo. Algo que ela já havia perdido há tempos. Um marido, um filho, um irmão. Pode ser que ela só quisesse comida, mesmo; mas não era algo em que a garota acreditava. Várias vezes em que os dois pares de olhos se encontravam, formando uma linha reta de mistério e penetração de uma ponta à outra da porta, a garota achava que a mulher a pediria alguma coisa – dinheiro, quem sabe – e ela teria de recusar, principalmente porque a única coisa que tinha naquela hora era o poodle preto na coleira. A irmã voltou e elas tiveram de ir embora. A menina tornou a cabeça para trás algumas vezes, achando que descobriria o sentido da profundidade do olhar nos últimos segundos. Mas, nada aconteceu. Pode ser que ela ainda o descubra. Talvez, isso sirva para algo em sua vida. Quiçá ela encontre aquele olhar novamente. Mas, de uma coisa há certeza: eu nunca vou esquecer aquele dia.

Navegação de Posts