Muitos foram os que já me perguntaram o que um escoteiro faz. E, apesar de ter conseguido bolar uma forma de explicar, nunca me senti inteiramente satisfeita com minha resposta. Contudo, fui acampar neste final de semana. E, meu Deus, que foi aquilo?! Após um dia inteiro de trabalho, montando barracas, cortando bambus e cozinhando macarrão, seguimos – à escuridão – para o jogo noturno. Nossa tarefa era desfrutar de instruções previamente dadas sobre a bússola. Mas não numa situação normal, como vocês poderiam imaginar: no meio da mata fechada. E encontramos aranhas gigantescas e teias proporcionais, o bater das asas das mariposas vibrando nos ouvidos, os grilos cancionando a noite. Até que chegamos ao ponto de término da suposta floresta e nos escancaramos num descampado iluminado por uma linda lua de quarto. Grama, pedras e mais pedras. Dava até para ver a cidade bem ao longe. Seguimos em frente.
Dado o fim do jogo notívago, reunimo-nos todos em volta de um montante de madeira e recebemos uma vela cada um. Foram os pavios acesos pacientemente. Dava-se início o discurso pré-fogo-do-conselho. Ouvimos o chefe discorrer palavras enquanto caminhava ao centro de nós e revelou-se, então, sentenças pronunciadas sempre em qualquer ritual deste tipo: “Em algum lugar do mundo, há outras pessoas acampando e participando de um fogo do conselho.”, disse o chefe. Me arrepiou interna. As velas nos concedidas deram-se ao trabalho de acender a fogueira e – com o calor do crepitar – deu-se o princípio oficial daquela reunião. Atuamos, conversamos, refletimos e cantamos! Com direito à dança e tudo o mais. Ficava maravilhada observando tudo o que podíamos fazer… Mas, mesmo assim, não me vinha à mente o que era ser escoteiro! Eu sorria, pensava, sorria de novo, não estagnava a reflexão! Que sensação era aquela de que minha procura estava próxima? Parecia que se postava à garganta mas não fazia questão mínima de sair! A dança da bilonga. É, isso mesmo. A bilonga foi o que me fez perceber. O que é uma bilonga, chefe?, e ele não respondeu. Recordo-me apenas de oito palavrinhas dele oriundas: Todo mundo, mão pra trás. Uma pausa. Dança da bilonga!, ele gritou quase rouco e na adrenalina. E, enquanto repetia o último trio, gesticulava no corpo inteiro uma dança sem ritmo, estética ou qualquer noção. Rimos, mas imitamos os passos (que se transformavam a cada curto período de tempo). E olhei a todos. Jovens bobos, sujos, cansados, doloridos que balançavam os braços fazendo os dedos contracenarem com o ar. Ah, é. O verdadeiro significado de ser escoteiro. Não sei explicar, não dá. É forte, tão forte que um dicionário inteiro não exprimiria. Sim, somos tontos. É, nós enfiamos a cara no mato. Nos machucamos, alcançamos objetivos, estamos sempre juntos e nos protegendo. A tropa sênior ataca, massacra, impõe o seu valor! Não tem medo da morte, essa seção só faz horror! Nós somos tropa sênior, nosso lema é vibração! Estamos sempre unidos pra cumprir qualquer missão! É sênior! Brasil! Acima de tudo, abaixo de nada! Ativa, unida e destemida! A nossa preferência será sempre a tropa sênior! E apenas se você for escoteiro, saberá exatamente do que estou falando. Da bilonga. Embora você também não tenha a mínima ideia do que seja isso.