A menina que matava caracóis

Filosofias úteis, inúteis e outras coisas que você pode não precisar.

Lar

Talvez eu me olhe no espelho e enxergue mais do que deveria. Mais uma vez, eu me sinto indigna. Ingrata. Incapaz. Cercada de privilégios que não consigo aproveitar. Exagerada. Dramática. Não pensei que essas sensações algum dia fossem retornar. Eu já me via distante delas há tanto tempo. Por outro lado, se eu olhar com minúcia, acho que sempre estiveram ali, adormecidas. Inertes, mas vivas.
É horrível dizer que senti falta do que me destrói? Não sei, só parece certo. Talvez eu esteja onde deveria estar, com o que mereço sentir. É uma zona de guerra, mas de conforto também. Passei tanto tempo me sentindo um erro que estar errada tornou-se familiar. Um lar. Disfuncional, mas ainda assim.
Não sei me abrir quanto às minhas emoções, porque elas são culpa minha.
Não queria estar em casa.

Blog novo!

Bom. Já faz alguns anos que não apareço, não?

Muita coisa mudou desde então – e eu agradeço por isso.

De qualquer modo, só estou passando para dizer que o ciclo de A menina que matava caracóis foi um excelente ciclo e trouxe para nós tudo o que deveria prover. Agora, é uma nova época, cheia de outras sensações! Por isso, mantenho-me a mesma autora, mas estou agora publicando em outro blog.

Muito obrigada!

Que saudade de mandar beijinhooooooooooooooooooooooooooos!

Letii

Desistência

 

Imagem

Sinceramente, eu não sei o que houve. O toque fantasioso de deleite do violino me conduz por um fio de dor muitíssimo implícito, mas dilacerante. Ninguém acredita no que eu falo. Ninguém quer entender o que eu digo. Sinto-me tão extremamente culpada por dizer que sou sozinha – quando há uma família inteira querendo meu bem e gente tão preciosa zelando tanto por mim. Mais uma vez, digo que meu problema e ser consciente demais. É uma tristeza estreita e de um negro brilhante que percorre a música e penetra em mim, causando uma agonia torturante por não se deixar identificar. Sinto-me tão extremamente culpada, mas as pessoas não querem raciocinar o que eu digo. A pronta reação de todos é agir como se o problema fosse algo tão pequeno e de tão pronta solução que negam quaisquer outros adjetivos que eu cuspir.

Sinceramente, eu desisti. Desisti de falar com qualquer um. Com meus pais, com o Matheus – minha irmã, nunca tentei porque não vale a pena, afinal, “eu estou assim porque nunca sei fazer nada”. Não posso ser mas verdadeira quando falo que adoroamo a ajuda que todos eles querem me dar – mas não suporto mais. Sabe o que é NADA adiantar? Eu fico bem por aquela noite e pronto, acabou. Tentei falar com psicólogos (duas, para ser mais exata), mas posso passar a semana inteira ensaiando e sentindo TUDO o que quero dizer e certamente sairei de lá sem ter contado um terço do que planejava. Eu não consigo mais falar com as pessoas. Eu não consigo mais organizar meus pensamentos. São crises de choro espontâneas, oriundas de fatos tão cotidianos e ridículos os quais me envergonham dizer por tamanha insignificância; são ataques de ansiedade antes de dormir, sentindo a solidão e o medo unirem-se e me inflarem de fora para dentro, levitando-me numa corrente de terror tortuoso. Não desisti da vida, não. Na verdade, eu nunca tive coragem para o suicídio  e acho que nem tanta vontade assim. Mas eu me mato, sim, aos poucos. Arranjo-me ainda mais problemas (desnecessários, ainda por cima). Privo-me do sono, corroo-me na fome. Liberto a perdição do olhar em um ponto randômico, a carne murcha por um momento. Entristeço-me de propósito. Já tentei emagrecer até a morte (ao menos morreria mais bonita e as pessoas teriam mais atenção em mim. Inclusive, minha real atenção não era morrer, era ter gente por perto preocupando-se toda a preocupação que eu sempre quis). Já tentei vomitar o almoço em casa e o jantar na faculdade – mas nem para isso eu sirvo. Sou incapaz de provocar o vômito, completamente incompetente. Já tentei ficar na cama o dia inteiro, mas não posso competir com pedidos maternais. E eu não quero falar para ninguém, porque não me trarão atenção: trarão lições de moral, sermões que não desejo, uma preocupação desnorteada por não querer entender o que está acontecendo.

Sinceramente, não me importo [agora] em passar o resto da vida quieta. O que me incomoda é pensar em passar o resto dos dias sem dizer a verdade à minha mãe, maior e exímia protetora de mim de toda a vida. Do meu pai, minha fortaleza de segurança. Do Matheus, minha paixão incondicional e fiel escudeiro. Da Professora Patrícia, minha companheira de voz branda e compreensiva. Não me importo em calar-me o resto da vida ou o tempo necessário – me importa que não me respeito. Entendo que não consiga fazer nada certo, mas respeito é o mínimo da educação e convivência em sociedade. Eu não quero sentir minha insignificância, por mais que ela seja verdadeira. Eu quero um filho, dois, três, para amar alguém que tenho certeza absoluta que me ama também, pois eu lhe darei amor. Quero filhos para saber que posso acertar com alguém. Quero filhos que digam que me admiram, que querem ser como eu. Quero filhos que ache lindos e inocentes. Eu quero acertar com alguém. Eu quero ensinar alguém. Eu quero precaver todos os erros que causei, todas as lanças que me atingiram. Quero cuidar. Sinceramente, não sei mais o que fazer.

Void

Void

“Então, enquanto rolo em meus lençois,
e, mais uma vez, não consigo dormir.
Saio pela porta e subo a rua,
Olhos para as estrelas
abaixo dos meus pés.
Lembro dos direitos que fiz errado.
Então aqui vou eu.
Olá, olá.

Não há lugar que eu não possa ir.
Minha mente está turva mas
o coração está pesado,
parece?
Perco a trilha que me perde,
então aqui vou eu.

Então mandei alguns homens para lutar
e um voltou no final da noite,
disse que viu meu inimigo,
disse que se parecia exatamente como eu.
Então saí para me cortar.
E aqui vou eu.

Não estou chamando por uma segunda chance,
estou gritando no topo de minha voz.
Dê-me razão, mas não me dê motivo,
porque só cometerei o mesmo erro de novo.

E talvez um dia, nós nos encontremos,
e talvez conversar, não só falar.
Não compre promessas,
porque não há promessas que eu mantenho.
E meu reflexo me causa problemas,
então aqui vou eu.

Não estou chamando por uma segunda chance,
estou gritando no topo de minha voz.
Dê-me razão, mas não me dê motivo,
porque só cometerei o mesmo erro de novo.

Então, enquanto rolo em meus lençois,
e, mais uma vez, não consigo dormir.
Saio pela porta e subo a rua.
Olho as estrelas,
olhos as estrelas por ora
e me pergunto onde foi que errei.”
Same mistake – James Blunt

Estou me destruindo. Consigo inclusive escutar o piso muitíssimo espesso, de azulejos desenhados em vermelho e violeta, quebrando-se, ruindo dentro de mim. Às vezes, é de repente que ele se afunda em V e lança os minúsculos cacos quase em pó em meus olhos. Mas por outras tento contar quantas vezes consecutivas ele estronde enquanto se rompe se parar. Não consigo mais dormir à noite. Não me deixo. Só adormeço quando meu eu rende-se ao cansaço e a tristeza, à solidão. Entretanto, agora é diferente, porque sei o motivo de estar sozinha. Eu me obriguei a isso, obriguei aos outros fazerem isso c0migo. Ultimamente tenho sentido tantas coisas que não sentia mais. Acho. Provavelmente sentia, mas negava, fingia que não entendia, não queria acreditar. Tanta raiva, tanto egoísmo, tanta culpa. Penso que, no final, era para ser assim mesmo. O sono me toma pela fadiga noturna e por abrigar-se no vazio de meu corpo. Os vícios sumiram um pouco… Porque estou me apagando… Estou sumindo… Sinto que estou morrendo. Mas todos nós estamos, certo? É desesperador não saber o que fazer. Não quero fazer tudo isso comigo mesma… Eu pensava que meu maior problema era ter muita consciência sobre quase tudo. Mas acho que é o contrário que está me fazendo tanto mal. E tenho certeza de que há gente contente com isso. Ao mesmo tempo que isso me acende uma raiva ardente, quase esqueço-me da pena que também se cobre em minha penumbra… Eles não entendem a sinceridade de tudo isso.

Vômito

Por que ninguém me ajuda? Por que ninguém olha para mim? Faço a minha parte, mas não adianta vomitar palavras presas no âmago, se ninguém as quer ouvir. Por que não falam sobre isso? Eu sou realmente sozinha?

Insano

A alegria da vida agora me parece tão falsa. Não porque estou infeliz, mas porque… Não somos. Criamos uma ilusão de felicidade e acreditamos nela como um deus. Mas é mentira. É mentira. Nós não somos nem nunca seremos realmente felizes. Somos escravos de regras que fingem conhecer a verdadeira felicidade, sendo que nem elas são felizes. Somos escravos do tempo, do trabalho, de esforços que nos dizem ser necessários para uma vida de dedicação e dignidade, quando a única coisa que esses esforços fazem é destruí-las! Talvez sejamos todos loucos. Cada qual em seu espaço próprio, sem deixar que o encostem totalmente. E a inocência infantil parece-me tão falsa. Ela não existe. Nada do que acreditamos existe, porque negamos nossa própria existência. Negamos que sofremos, negamos que somos infelizes – sempre tentando acreditar que tudo pode mudar, mas não vai, apenas pelo fato de que não podemos tomar qualquer atitude sem antes aceitar aquilo que nos rodeia. Sinto-me tão inútil pensando que fui criada e que os pais educam seus filhos esperando-lhes o melhor, mas todos crescem e se enchem de malícia e de perigos que não existiam antes! Todos crescem e tem problemas que não tínhamos! Todos crescem e tornam-se insanos, malucos! E nos prendemos a isso porque esse ciclo de infelicidade, de insatisfação nos prende como um vício, porque é ele que nos faz acreditar que ele mesmo não existe! E tudo vai para o lixo. Porque nada serve enquanto não crescermos… Em qualquer sentido que eu queira ter dito.

Amiga Bárbara

Bárbara, eu gostaria de me desculpar por todas as vezes que dei a entender que não desejava sua presença, por todas as vezes que pareci dificultar as coisas. E devo confessar que não foram apenas as aparências: era verdade. Mas não se choque, o erro não estava em você, estava em mim. Você sabe melhor que qualquer um que nunca fui alguém de muitas companhias e acho que, com o passar do tempo, prendi-me a isso. Entendi que afasto as pessoas e que, para que aquelas que me gostam continuem me gostando, melhor é mantê-las afastadas, pois assim não se aborrecem ou chateiam perto de mim. Eu SINTO falta de uma amiga como você. Eu SINTO falta de VOCÊ. Porque você é aquela que eu sei que pode até se espantar com certas decisões ou atitudes minhas, mas que NUNCA deixará de estar ao meu lado, porque você me ama assim como eu amo você. Não tenho palavras para expressar o quanto TODA a convivência com você me faz falta. Eu me prendi numa cúpula de isolamento, sem amigos genuínos para dizer tudo e qualquer coisa que desejo e nos divertirmos e chorarmos juntos. Transformei minha própria vida num inferno pulsante e não via como escapar; achava que era muito difícil. Mas ontem, hoje, percebi que tudo o que preciso é ter alguém que me entenda. Você não me entende completamente, é verdade – assim como não te compreendo por completo também. Mas ambas temos força de vontade para tentá-lo e ajudarmo-nos como pudermos, porque eu nunca tive uma amiga como VOCÊ. Obrigada, MAIS que obrigadíssima por TUDO. Você vai viajar comigo essas férias. E isso é uma ordem. 😉

O rio de água tenra

Large

“O que eu gosto no rio mais
é que ele nunca está igual,
a água sempre muda e vai correndo.
Mas não podemos viver assim
e esse é o nosso mal,
e o pior é que acabamos não sabendo

Lá na curva o que é que vem?
Sempre lá na curva o que é que vem?
Quero saber
lá na curva o que é que vem,
eu só vou ver,
aves a voar,
quero entender!
O meu sonho não me diz
lá na curva o que é que vem pra mim?
Que vem pra mim?

Eu não me canso em procurar,
um dia sei que vou ouvir
algum tambor distante que me chame.
E o estável lar que eu terei
irá me proteger,
quero segurança um homem que me ame!

Lá na curva o que é que vem?
Sempre lá na curva o que é que vem?
Quero saber
lá na curva o que é que vem,
eu só vou ver
que cheguei ao mar,
quero entender!
Meu destino está com quem?
Lá na curva o que é que vem?
Lá  na curva o que é que vem?

Que caminho vou seguir?
Qual a melhor solução?
Vou casar com Kocoum
ou devo então casar com quem?

Ou só sentir que meu sonho vive?
E depois da curva..”
Lá na curva – Pocahontas

Eu ouço a água tenra correr em correntes desfeitas, molhando a terra e as margens. A canção inebriante e hipnotizante da natureza líquida me toma por inteiro, por dentro, fazendo-me flutuar. O fogo é bonito e imponente, amedrontador, dominante; mas não supera a serenidade e dedicação da água em sua tarefa de correr do ponto alto ao baixo, explodindo algumas pequenas bolhas e nos embalando num frio aconchegante, quase morno. Eu gosto da água jovem, daquela água tenra como a maciez e moleza de uma pata de filhote de lobo. Posso ver o rio sorrir calmo para mim ao ver-me apreciá-lo. Embora a corrente seja fria, sinto-a muito quente, sem saber a razão. As gotículas embaçam minha visão, as pupilas, fazendo de meus olhos telas para uma nuvem de vapor. Deixo a correnteza me levar, sentindo o líquido incolor enfeitar-me com pulseiras e gargantilhas, e colares de ouro d’água. Ela me corre pelos braços, cobrindo-me o corpo. O nó da garganta não existe mais, ele se derrete no calor. E sou levada sem saber para onde vou. O que é a vida sem destino? Paz. Não sou sozinha. Um espaço limitado de margens gramadas e encharcado por uma veia aquosa, até estreita, me leva. De braços abertos, como Cristo na cruz, imagino que descerei por uma cachoeira mortal. Paro na margem, voltando à realidade e abro os olhos. Melhor desligar o chuveiro.

Pecadora maculada

divination

“Agarre sua arma,
hora de ir para o Inferno
Não sou heroi algum,
culpado como condenado

Procurar e destruir

Encontrei minha fé
vivendo no pecado
Não sou Jesus,
nem você é, meu amigo

Sou uma vadia,
o nascimento de sonhos quebrados
A resposta simples
nunca é o que parece

Em um milhão de pedacinhos
nós nos quebramos
Um milhão de pedacinhos
roubei de você

Procurar e destruir

Vendi minha alma
ao Céu e ao Inferno
Doentia como meus segredos,
mas nunca os contarei

Sou culpada,
peso de meus sonhos
Em uma maldição de fé
e numa benção acredito

Procurar e destruir

Deixe-me ir
Deixe-me ir
Deixe-me ir
Deixe-me ir”
Search and destroy – 30 Seconds to Mars

Como se eu lutasse contra uma morte inevitável. Enquanto meu coração atrofia, caio ajoelhada, sufocando no desespero de uma tortura sádica. Que fraqueza. Eu devia arcar com as consequências, não lamentar o fardo. É o preço por meter-me numa guerra tão vergonhosa. Tem razão em ficarem furiosos: se todos forçam-se a uma convivência triste e decadente, rejena de máscaras, que bons motivos tenho eu para fugir disto? Não cabe a mim decidir ou não a lógica de pagar por algo que não foi feito. Sou uma herege, vadia, prostitua. A escória das almas que se traem e correm, que assassinam a si mesmas. Nada é tão rijo como meu coração de pedra, de músculos plastificados e estrias salientes. Que ousadia essa minha de mostrar-me crua numa essência aérea e carnosa de esperança. Todos arcam e sofrem, que direito tenho eu de revelar-me deste modo? Porque sempre fui diferente. Porque nunca aprendi – por mais que surrassem meu rosto na terra batida até esfolar-me com a poeira – que sou insignificante; que só importa o que está acima de mim. Sou forçada a obrigar-me a prender-me apenas às indiretas sofridas na esperança não-recíproca, incapaz de pedir ajuda. As pessoas boas não se se não enxergam minha sina – mas as que enxergam a ignoram num sarcasmo doloroso e doentio, merecido. Vejo-me, então, sempre perante duas opções: sufocar no veneno empoeirado da garganta aos pulmões, sentindo minhas pleuras secarem e ficarem ressequidas e quebradiças; ou arder nas chamas gritantes do Inferno, atada a um mastro amadeirado e fervente; o feno escaldante queimando cada nervo sensível em meus pés. Bruxa maldita, morra em segredo e celebrarão quando notarem. Culpa sua ficar em evidência. Verme, parasita. Conseguiu o que nenhum de nós alcançou. Vagabundo, pecadora maculada. Seu coração será troféu quando terminarmos de te minar aos poucos, víbora traidora. Renegada, rejeitada.

Sinto-me cansada, acabada, esgotada, exaurida de todas as forças. Ofegante, corro fugindo da fogaréu às minhas costas, ainda sendo possível sentir as cordas em brasa se desfazerem em meus pulsos incendiados. A pele derrete ardidamente conforme a brisa forçada me arrebata. Rufo, lutando, espancando todas as cordas vocais na violência do apertar dos olhos, sufocando. Asfixiando. Nem o choro atravessa o ar negro em minha garganta. Sentindo as lágrimas reprimidas nas maçãs do rosto, em espamos internamente fortes e sem efeito real, caio, atinjo a terra. A rigidez da estrada me açoitando a face. E descubro, então, que o pó do veneno sempre foi fuligem tóxica.

Vitória

gárgula

“Eu vim para vencer, lutar, conquistar, prosperar,
Eu vim para vencer, sobreviver, prosperar, erguer-me,
Para voar

Eu queria que hoje chovesse o dia todo
Talvez isso meio que fizesse a dor ir embora
Tentando te perdoar por me abandonar
Mas ainda acho que sou um anjo distante
Um anjo distante, estranho de certa forma

Deve ser por isso que persigo estranhos
Eles pegam suas armas e miram em mim
Mas eu me aproximo quando miram em mim

Eu, eu contra eles
Eu contra inimigos, eu contra amigos
De alguma forma, ambos parecem tornar-se um
Um mar cheio de tubarões, todos eles farejam sangue

Eles começam a chegar e eu começo a subir,
Deve ser surpreendente, sou apenas conjecturas,
Vencer, prosperar, planar, mais alto, mais alto
Mais fogo

Todos tentam me encaixar
Sufocante sempre que me trancam
Pintam as próprias imagens e depois tentam me enquadrar

Mas ficarei onde começa o topo
Pois não sou uma palavra, não sou um verso,
Não sou uma garota que pode ser definida

Não sou um voo, sou uma levitação
Represento uma geração inteira,
Ouço as críticas em alto e bom som
É assim que sei que a hora está perto

Então tornamo-nos vivos numa época de medo
E não tenho tempo a perder
Chorando demais dia após dia
Um fardo tão pesado posto sobre mim
Mas quando você trabalha duro seus ‘nãos’ viram ‘sims’

Prepare-se para isso,
Eu vim para vencer

Eu vim para vencer, lutar, conquistar, prosperar
Eu vim para vencer, sobreviver, prosperar, erguer-me
Para voar
Para voar”
Fly – Nicki Minaj feat. Rihanna

Meu corpo é oco para cuidar da incrível fonte de luz que se abriga em meu ser. É uma esfera média, amarelinha como uma chama de vela, que irradia em ondas círculos de luz. Ao mesmo tempo em que me esvazia, me preenche de uma substância abstrata, de um ar diferente, exclusivo. Uma nuvem que cheira à erva cidreira, perfumando-me interna, tornando-me um ponto de esperança. Ela é um complemento de mim, renovação da minha fé em lutar sem parar – porque mesmo quando cessamos por um intervalo, nos preparamos para a próxima leva. Sentados num saco de estopa, deixados no deserto. Esperam que morramos por cobras, mas vão se decepcionar. Porque vamos sobreviver. Não de um modo vitorioso por esperança e – estranhamente – por também desespero; será uma vitória gloriosa, iluminada, extremamente intensa. Vamos erguer nossas espadas sujas de areia, o sol nos queimando até os ossos.  Nem seu corpo aguenta fisicamente – mas você está lá para vencer. Para mostrar a todos que nenhuma das tentativas de descrédito por medo e crueldade te derrubou. Você olha a luz ardente no céu, deixando lágrimas escorrerem muito rápidas pela luz que te desidrata o cristalino e pela glória dourada que conquistou. Heroica. Hercúlea. Você grita, ri, cai em prantos numa euforia maravilhosa de não saber o que fazer! A energia é tanta, a felicidade pura e genuína é tão grande que as únicas palavras nas quais você pensa são Eu consegui. Depois de tudo, depois de chorar tanto, de me quebrar, de gritar de dor e desespero. Depois de tantos esforços, depois de tanto desejar desaparecer com a poeira no ar, de não existir. Depois de tudo – TUDO – eu consegui. Eu provei a todos, e ainda melhor, a mim mesma que posso, que estou aqui, que sou incrível e heroína de mim mesma. Você soluça, descontrola a respiração, grita pelo amor, pela alegria de saber disso tudo. De saber que você não é um peso insignificante. Que tudo é tão lindo e perfeito. Por perceber o quanto você é forte, o tamanho da sua fé. O alívio e os sorrisos mais verdadeiros do mundo saem na respiração, doendo demais ao raspar nos brônquios, na garganta – porque você não quer deixá-los sair NUNCA. Eles são seus, você é de si mesmo, o mundo é seu se desejar – não por pertencer, mas por você se pertencer. Os olhos já cansados baixam para enxergar suas mãos entre o pó no chão. Já ajoelhado, sentindo seu corpo inteiro trêmulo, você prende o ar dentro e torna a chorar, mais e mais. A felicidade extrema é tamanha que não é possível pensar na melhor maneira de extravasá-la. Você simplesmente a sente e chora como uma criança, verdadeiramente, sem preocupações, sem receios. Chora de verdade, sentindo cada lágrima singular abrir caminho entre os poros. Como uma criança… Um corpinho quente e frágil, que não entende direito o que sente. E é tão bom. Tão libertador, tão glorioso quebrar as próprias correntes.

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