Baiana cafeeira
É uma figura curvilínea e delineada, cromada numa mescla de moreno e pele queimada de sol. Não discorro apenas sobre o rosto – e nem seu corpo inteiriço seria termo bom o bastante para extravasar essa sensação dentro de mim; é algo mais profundo e suavemente perfeito, impossível de identificar se não a fitar atento: sua energia – sim, creio esta a palavra adequada a usar! – espalha sensualidade extremamente sutil na mira dos olhos (olhos estes seus adornados em curtas e altivas sobrancelhas), como se emanasse o calor de curvas corpóreas em tênue camada ou em pequenas ondas – afetando gradual e imperceptivelmente os voyeurs ao redor.
Por vezes, ao lhe observar os lábios carnudos e os torneios das coxas e das pernas, surge-me a impressão de que ela toma ciência dessa aura em soberba mansa; em contrapartida, há momentos nos quais me pego próxima à certeza de sua inocência perante suas condições contagiosas. Apesar de seus traços não serem exatamente delicados, parece-me uma dama de época (dessas vividas nos primórdios cafeeiros do Brasil) chamando a atenção dos moços com sua beleza nativa passada pelo quente da pele e voluptuosidade dos seios – tornando-se ainda mais atraente pelos respeito próprio que também exibe ter. Os cabelos enegrecidos em breu caem, esgueirando-se por entre os ombros e um vestido histórico enfeitado de verde e rosa pastel soa completamente apropriado.
Por fim, não existe conclusão correta a esta descrição pessoal – prefiro prender-me apenas ao perfume incolor imaginário que me inebria enquanto divago ao sentir o ar passando por meus pulmões.