A menina que matava caracóis

Filosofias úteis, inúteis e outras coisas que você pode não precisar.

Arquivo para o mês “abril, 2011”

Refugiou

Pessoas nunca mudam, mesmo. Podem se tranformar o quanto quiserem, mas giram sempre em torno de um centro só. Engraçado… Aos meados de meus catorze anos, jurei a mim mesma que evitaria a tristeza minha e alheia, não importasse o que tivesse de ser feito. Boba, eu. Contudo, acreditei naquilo que queria. Passado algum tempo, não me lembro a que altura do último ano, percebi de vez que meu anseio seria impossível. Cri-me firme e forte, superarei qualquer sofrimento que for. E chegou hoje. Não dá para suportar tudo. Não dá nem para suportar a ideia. Pus-me, sozinha, entre a cruz e a espada, confrontando Cristo de frente com lágrimas por não querer andar para trás. Pressão demais, muita coisa na cabeça. Queria apenas sumir, mas não voltar tudo como era antes: o pretérito já não me pode mais refugiar, conjuguei-o no passado, sinto-me feliz aqui. Queria somente saber o que fazer. 😦

Fascinação e esplendor

Um trabalho escolar foi o motivo de caminhar até lá. Atravessei o portão metálico da biblioteca em busca de uma obra de Cecília Meireles. Enquanto esperava o rapaz da recepção voltar na extectativa de encontrar o livro que me fazia falta, resolvi dirigr-me à seção de romances nacionais. Deparei-me com uma série de livros de Malba Tahan, todos bem coloridos em vermelho sujo e velho. Páginas douradas de tão amarelas. Quis poder enxergar as capas duras: utilizei-me das mãos para separá-los na prateleira e dar uma olhada em suas frontes. Para grande e ilógica surpresa, de tão obsoletos, grudaram-se. Temo tê-los estragado, mas estavam intactos. A cena subiu-me em vigor. O aroma das folhosas obras em disposição alfabética de autores ergue-se em pó às minahs narinas. Não haveria nada mais prazeroso. Dei-me conta, então, que me havia esquecido do que realmente é uma biblioteca: tomei-a por fonte de pesquisas de colégio, estabelecimento público visitado por mim poucas vezes. Não. Biblioteca é uma coisa esplêndida. Não precisa rasgar seus corredores ávido por espetáculos impressos, olhando para todos os cantos. Apenas agachar e gastar os minutos e observando os títulos e escritores, em procura sem certo tesouro, já basta. Prefiro sempre os brasileiros e já antigos, pois me parecem nomes de elite. Transmitem uma aura chique e exalam exuberância ao mostrarem-se elegantes. Por incrível que pareça, não pensei na mágica nem me remeti à fantasia. Postei-me no limite da realidade, da poeira, dos poucos visitantes. Maravilhei-me na solitude de meu ser acompanhando os livros sozinhos. E gostei. Jamais pensara que o concreto poderia ser tão fascinante. Isso mesmo, fascinação e esplendor. Quatro paredes que fecharam-me no paraíso urbano mais perfeito de todos as épocas: o único que soube parar no tempo.

Texto sem objetivo

Inspiração é, de longe, o que mais há em mim. Nas vezes em que ideias me faltam, olhos para todos os cantos, portas e janelas em busca de algo que faça piscas em brilho a imaginação. Hoje mesmo encontrei uma flor na rua. Na calçada, peço perdão. Concreto cinzento, áspero, sujo. Uma árvore quase à guia, alta e sem flores ou frutos a dar. Apenas uma flor vermelha de hibisco, solitária e lacrimosa, sem rachaduras para enraizar. Fotografia perfeita, rubor central. Completa ciência da fonte postada à frente, noção nenhuma do que fazer. O que queria dizer? Que mensagem aquilo poderia passar? E, sem saber traduzir o objetivo floral, eu me fui dentro do carro na ausência de uma luz para escrever. Visitei parentes, feliz páscoa, a gente já vai almoçar. Passada a refeição, sentei-me no sofá com meu primo e assistimos à um filme. A fantástica fábrica de chocolate se me lembro bem. Arrepiei, sorri, quase chorei ao final. Sempre me alegra a última seção. Senti que deveria escrever, pôr meus dedos para digitar. E nenhum termo me apareceu. Nem vogal nem consoante. Mono ou polissílaba. Contudo, aqui estou. Não sei quantas linhas, um só parágrafo. Escrevi. Que texto é esse, então? Como, se afirmei com convicção tudo o que leu até agora? Creio que descobri, caro leitor. Percebe-se que nessas fórmulas gramaticais não há um anseio sequer. Escrevo porque preciso e escrevo quando quiser. Somente o fato de bater as mãos em meu teclado já me dão prazer. Talvez aprenda alguma coisa ou, quem sabe, não haja algo a entender. Lhe deve estar confuso ler tudo isto aqui. Mas não se preocupe, não se sinta mal: o importante mesmo é ter algo para falar, pois confirmo – sem temer – que escrever é um prazer a extravasar.

FELIZ PÁSCOA!

Mas que merda?! – Leis bizarras

Como uma nova seção, é meu dever explicar-lhes o conceito MAS QUE MERDA?! da coisa. Apesar de não participar de minha linguagem rotineira do blog, esta expressão é frequentemente usada por mim (geralmente em escandalosos tons de voz) e pensei que usá-la neste contexto cairia bem. Se quiser também fazer uso da mesma, basta gritá-la em grande indignação e surpresa ao fim de cada lei ou de qualquer outro fato que lhe causa as mesmas reações. 😀 Pois, bem; Aproveitando que minha irmã, recentemente, foi instruída a fazer um trabalho escolar sobre leis – apresento-lhes Mas que merda?! – Leis bizarras! Com algumas das mais esquisitas leus que encontrei na Internet. Divirtam-se. 🙂

França

> Entre as 8 da manhã e as 8 da tarde 70% das músicas tem de ser de artistas franceses.
> É proibido beijar alguém no metrô.

Dinamarca

> Tentar escapar da prisão não é ilegal, no entanto, se for pego terá que cumprir o resto da condenação.
> Ninguém pode pôr em movimento seu veículo se há alguém embaixo dele.
> Os restaurantes não poderão cobrar pela água a não ser que não esteja acompanhada com algo mais, como gelo ou uma fatia de limão.

Suécia

> A prostituição é ilegal, usar o serviço de prostituição não é.

Inglaterra

> A lei autoriza às vendedoras a fazer topless em Liverpool, mas somente em lojas de peixes tropicais. (Um perfeito MAS QUE MERDA?!)
>
É ilegal pendurar roupa de cama na janela.
> É proibido pescar salmão nos domingos.

Irlanda

> Se você está em Cork (deve ser uma cidade irlandesa), e vê um escocês, ainda é legal mirá-lo com arco e flecha, exceto nos Domingos. (Outro perfeito MAS QUE MERDA?!)

Canadá

> É ilegal tirar o curativo em público.
> Em Alberta (também deve ser uma cidade), se você esteve preso e foi liberado, tem direito a pedir um arma carregada e um cavalo para sair da cidade. (E isso deve ser da época do Velho Oeste.)
>
Em Ottawa a lei proibe chupar picolé no domingo atrás do Banco. (A lei mais ESPECÍFICA que eu vi na vida)
>
É proibido tentar aprender bruxaria. (???)

EUA, Alabama

> É proibido jogar dominó no domingo. (Coitados dos velhos. :/)
> É ilegal usar bigode postiço que cause risos na igreja. (q?)
> Colocar sal nas linhas ferroviárias pode ser castigado com a pena de morte. (QQQQQQQ?)
> Os homens não podem cuspir diante das mulheres.
> É proibido vender amendoim após o entardecer das quartas-feiras em Lee Country. (Também uma das mais específicas)

EUA, New York

> É proibido passear com um sorvete de casquinha na bolsa nos domingos. (O motivo pelo qual alguém faria isso é…. inexistente?)
>
 As mulheres poderão praticar o topless em público desde que não seja com fins lucrativos.

EUA em geral

> É ilegal comer amendoins e andar para atrás pelas ruas quando há um concerto.
> Cada pessoa deve tomar banho ao menos uma vez ao ano.
> É proibido amarrar uma girafa a um poste de luz. (MAS QUE MERDA?!?!?!)
> É proibido comer num lugar que esteja pegando fogo. (NINGUÉM COMERIA NUM LUGAR PEGANDO FOGO! WTF?!)
>
É proibido cantar no chuveiro. (Seria bom me lembrar disso. U_U)
>
É proibido dormir num congelador. (QQQQ?)
>
É proibido caminhar de costas comendo amendoins em frente ao Barnstormers Auditorium.
> É proibido usar elefantes para arar os campos de algodão. (…)
>
A única posição permitida é o papai-e-mamãe e com as cortinas fechadas. (O QUÊ?! E QUEM FISCALIZA ISSO?!)
>
É ilegal praticar sexo no pátio da igreja. (No confessionário, não – para quem sabe do que estou falando. ;D)
>
O sexo oral é considerado um crime contra a natureza. (Claro… Claro. Õ_Õ)
>
É ilegal emprestar o aspirador de pó ao vizinho.
> É ilegal que uma mulher dirija um carro a não ser que tenha um homem correndo à frente dela agitando uma bandeira vermelha para avisar aos motoristas e transeuntes que se aproximam. (MUAHAHAHA. MUAHAHAHA. MEN WIN!)
>
Uma lei que alude a 1912 decreta que “é proibido levar armas ocultas, a não ser que sejam exibidas”. (E nexo deve ser ilegal.)
>
É proibido a entrada de monstros nos limites urbanos. (Inclusive em Townsville? Ô_O)
>
É ilegal montar num cavalo feio. (PRECONCEITO WINS! DR. RAY’S BUSSINESS SUCCESS)
>
É ilegal que o dono de um bar permita que alguém finja ter sexo com um búfalo. (Ok, nunca vou tirar essa imagem da cabeça. *pisca freneticamente*)
>
É ilegal dizer “Oh, Boy”. (Assim como Paris Hilton patenteou a frase “That’s hot.”)
>
Quando dois trens chegarem juntos num cruzamento de vias, ambos devem parar completamente, e nenhum deve seguir adiante até que o outro tenha ido. (E a lógica é pra enfiar no toba, né?!)
>
Os cães devem ter as patas traseiras amarradas durante o mês de abril.
> É vedada a venda de pasta de dentes e escova de dentes ao mesmo cliente nos domingos.
> É ilegal susurrar besteiras ao amante durante o ato. (MAS QUE MERDA É ESSA?!)
> É proibido assobiar embaixo d’água. (Lembrando que assobiar e chupar cana pode.)
>
É ilegal colocar um peixe dentro de uma camisinha. (?)
> É proibido dar mais de 100 voltas nà cidade. (??)
>
As mulheres não podem usar sapatos de couro que permita aos homens ver as suas roupas íntimas através do reflexo.

Hong Kong

> É ilegal inscrever-se na Universidade, a não ser que você seja inteligente.

Israel

> É proibido meter o dedo no nariz aos sábados.
> Em Haifa é proibido levar ursos à praia.

Austália

> Somente eletricistas podem trocar lâmpadas.
> É ilegal passar graxa de sapato na cara. (WTH?!)
> Os bares são obrigados a dar água e comida a seu cavalo.

E, com isso, chegamos às seguintes conclusões:

& EUA são, realmente, um páis MUITO estranho;
& Leis bizarras têm alguma cisma com equinos;
& Leis bizarras têm algum problema com domingos;
& Norte-americanos parecem ter algum dilema com amendoins;
& Nunca leve um sorvete de casquinha para a viagem. 😉

Existem muitas outras mais, porém – como dito – separei as que considerei mais engraçadas. Ah, apesar de sempre pesquisar as fontes e tudo o mais, não pesquisei sobre a veracidade destas estranahs constituições. O que eu sei é que, como a constituição dos EUA muda muito pouco, algumas leis da época do Velho Oeste ainda estão vigentes (por não fazerem a mínima diferença). E creio que a cisma com os domingos seja porque é dia de missa. De qualquer forma, verdadeiro ou não, são engraçadas demais para não colocar aqui. 😉

Beijinhos,

Letii

A cavalgada

Olá, queridos leitores! Pois bem, tenho causos a contar. 🙂 Ontem, fui a uma cavalgada noturna (sem segundas intenções, por favor. G_G). A verdade é que nunca me dei muito bem com cavalos, mas quis arriscar. Estava até indo bem: ele virava, parava e andava quando eu mandava. Contudo, acho que ele era meio jegue e, de vez em quando, decidia empacar. Papai dizia pra eu dar umas batidinhas com o calcanhar nele. E dava chutinhos, mandava beijo, anda-pelo-amor-de-deus e NADA. Eu praticamente ESPANQUEI o cavalo e ele não fez questão de SAIR DO LUGAR. Foi tenso. 😐

Porém, contudo, todavia, a cavalgada foi boa e um monte de mosquitos-monstros-jurássicos me picaram. :D A melhor experiência da minha vida. *-* Hehehe. Brincadeiras à parte, uns amigos dos meus pais foram com a gente e levaram seu filho pequeno (não tinha nem dois anos ainda). Antes de sairmos a cavalgar, ficamos numa casa até que todos os cavalos estivessem prontos. O filho pequeno começou a brincar com uma cadeira de balanço, jogando-a para trás com força. Veio, então, uma menininha mais velha de cinco ou seis anos e parou a cadeira na mão. O garotinho tentou balançar de novo e não conseguiu. A menina fez a maior cara de quem se acha e parecia dizer, arrogante: “Não é pra balançar assim.”, sendo que ela faria  a mesma coisa. Até que ela soltou o objeto, mas continuou atrás dele. O pequeno balançava a cadeira e esta quase batia na menina. “Só cuidado pra não machucar.”, o pai dele disse. “Tem é que dar no meio da testa!”, Letícia pensou, ensinando coisas certas às crianças. 😀 Ai, me orgulho de dar exemplos! :’D Hehehe. Bom, por hoje, é só. 🙂

Beijinhos,

Letii

Sessão das onze

“É poder ser você mesmo
e não precisar fingir
(…)
Sei que nunca fui perfeito,
mas com você eu posso ser até eu mesmo que você vai entender.
Posso brincar de descobrir desenho em nuvens,
posso contar meus pesadelos
e até minhas coisas fúteis.
Posso tirar a tua roupa,
posso fazer o que eu quiser,
posso perder o juízo,
mas com você eu estou tranquilo.
O que eu também não entendo, Jota Quest

Esta manhã, sentamos na praça e nos pusemos a conversar. Prosa vai, prosa vem e não nos prendemos em beijinhos e ‘nossa, como eu te amo’. Falamos de verdade, contamos histórias e rimos feito bobos. Eu realmente gosto de você. Queria te contar uma coisa que não precisa ficar só entre nós, mas nunca me soltei tanto com alguém que me tivesse num vínculo amoroso como com você, hoje. Certo que não me libertei por completo, mas bati meu recorde. Piadas ridículas, ataques de risos sem motivos, risadas desafinadas e pouco delicadas. Não tive que me importar se parecia bem, se meu cabelo estava arrumado ou se minha pose estava estranha. Não tive que me importar com nada. Éramos eu e você, ali, naquele instante, passando o tempo em praça pública. . A melhor parte de conversar com você é que me sinto numa troca de palavras com um grande amigo. Isso é bom. É, sim! Porque se o diálogo da relação se bastar em diminutivos e beijos melosos, a coisa enjoa. É de extrema relevância que façamos o que fizemos esta manhã. Eu te amo, você sabe disso. O cabelo em formato fofo, as mãos do jeito que me tocam, o sorriso lindo e contagiante. Mas, seu olhos. Apresentados em íris de madeira, me rasgam profundos as pupilas. Sem exagerar, posso dizer que sinto o corte afiado em meu peito. É mais que um olhar. É mais que profundidade, apesar de tudo. É intenso, muito intenso. Adoro quando me observa de perto.

Contudo, creio ter fugido do assunto. É que a necessidade de declamar sem versos aquilo que me parece não ser compreendido é mais forte que eu. Perdoe, por obséquio. De qualquer modo, é ótimo conversar com você. Penso que a única coisa a formatar seria o céu das nossas onze horas: mais perfeito seria a lua estampada e pinceladas em brilho atuando de estrelas, para usar – com genuína sinceridade – o chavão cinematográfico mais famoso dos momentos pós-encontros: Eu me diverti muito com você, esta noite.

506 palavras

Venho hoje, por meio deste, falar de empatia. Num mundo violento, cruel e vil, venho falar de empatia. Grosso modo, este substantivo duplamente tem seu significado resumido por apenas seis palavras ‘se colocar no lugar do outro’. Contudo, número pequeno assim não se basta para explicar. Empatia, acima de tudo, é um sentimento esplendoroso superior à felicidade humana.

Por sua natureza, o homem se mostra um umbicilista – ou seja – egocêntrico, o que só torna mais difícil a consumação da empatia. Que fiquei claro que é impossível prover de tal emoção por toda e qualquer pessoa. Pode soar até ridículo, mas a primeira vez que a senti foi por meus personagens. É preciso um vínculo muito forte para tal feito e eu já o tinha. Empatia é como brincar de Deus: você vê as qualidades, vê os defeitos e ama. Ama incondicionalmente. Um amor que independe de declínios leves ou graves, um amor que está à frente de escolhas erradas. É olhar para aquela pessoa e não enxergar cara e coração, você vê. É diferente, você vê. Por um sorriso, a felicidade pura; por um olhar, a tristeza profunda; pelas mãos, o sofrimento da vida; pelo lago mais fundo das pupilas, algo que te faz arrepiar. É lindo! É incrível! A impressão é de que você vê o que ninguém mais consegue. Vai além da imagem física. Contagia, traz alegria, uma aura inovadora! Posso dizer que lágrimas rolam, se permitir. É magnífico saber quão possível é enxergar o quê especial de alguém de quem se gosta tanto.

Peço-lhes perdão pela errada definição dada ao início do texto. Grosso modo, empatia é entender o lugar do outro’. Precisa entrar na lógica dele. Um exemplo aclararia a explicação: uma jovem desbocada, que desrespeita mais novos e mais velhos, sem consideração e interesseira. É, horrível. E se eu dissesse que ela se criou na miséria, na necessidade? Aprendeu a se virar por si mesma e a sobreviver como podia. Ah, coitada, a culpa não é dela. Na empatia isso é entendido, totalmente compreensível. Não é preciso concordar nem achar certo. Pode ser algo que vá inteiramente contra seus princípios. Agora, vê. Vê que ser assim é tudo o que ela aprendeu. Ou melhor, enxergue em você mesmo! Seus valores, seus conceitos, sua educação vem sempre de sua criação. Como foi criado ou como se criou. É tudo o que se conhece. E se arrancarem de uma pessoa tudo o que ela assistiu, viveu e aprendeu, não sobra nada. Restam adjetivos espalhados pelo ar. 78% nitrogênio, 21% oxigênio e saturação de predicados. Tira-se dela tudo o que ela é.

Enfim, empatia é complicado. Ironicamente, quase inexplicável. Mas, tente. Chorar com uma música, com a novela ou com um filme já é um bom começo. Leia um livro. Escreva um livro. Faça aquilo em que é bom. E quando você menos perceber, um sensação estranha, desconhecida, mágica e provavelmente brilhante lhe recheará o organismo de fogos de artifício. Então você se lembra de agora e vê que 506 palavras nunca estiveram erradas.

Aviso prévio

Às vezes, eu acho que não deveria pensar tanto antes de agir. Ser mais impulsiva. Olho amigos, amigas, pessoas que conheço e as vejo vivendo por aí, sendo felizes e tratando relações na maior calmaria. Não que eu seja explosiva, mas acabo sempre em conflitos internos. Prometo a mim mesma que jurarei mil maldições, serei curta e grossa, direi poucas e boas. Chega na hora H e não faço metade do que estava determinada a fazer. Converso civilizadamente, encontro caminhos, procuro soluções e tento entender o lado do outro. Reconheço que tais qualidades sejam benéficos – entretanto, tudo o que vem em excesso ou escassez, faz mal. Nunca briguei na escola, nunca dei um soco na cara de alguém. Jamais me viram realmente brava. Não me contento em (com o perdão do palavreado) mandar simplesmente tomar no cú. Sou mais ácida, bem mais cruel. Digo coisas que prefiro não citar mas – acredite – sou pior do que imagina. Uma de minhas fortes crenças é que, de tempos em tempos, é preciso explodir. Jogar pra fora tudo o que quiser, não economizar em má educação. Contudo, minha compreensão não é inteira em relação a este desabafo. Talvez lhe sirvo de algo, talvez não. Como eu disse, precisa explodir. É. Acho que isso foi só um aviso prévio.

Beijinhos,

Letii

O verdadeiro inferno

O costume de pensar que nunca vai nos acontecer é tão forte que acabamos por nos afastar da realidade. Cheguei em casa ontem, logo após a escola. Cumprimentei minha mãe – que passava roupa na sala – e dei uma olhada na tevê. Onze crianças são mortas a tiros dentro da escola. Imediatamente lembrei-me de casos semelhantes na região norte-americana. Sentei-me no sofá, tirei a mochila das costas sem desgrudar os olhos das imagens televisivas. A foto do atirador, a fachada da escola. E, de repente, haviam crianças em sangue. As camisetas, antes brancas, estavam agora vermelhas. Vermelho liquefeito escorrendo pelos braços, deixando viscoso o cabelo, gente caindo, gente desesperada. Morte, violência gratuita. Eu já li sobre isso. Já assisti sobre isso e, inclusive, já escrevi sobre isso. Mas uma menina de doze anos viu três amigas serem mortas. “Ele conseguiu atirar nos pés delas e elas caíram. Daí ele disse ‘vira de costas que eu vou matar vocês’. Elas gritaram pra ele não matar elas e ele atirou na cabeça delas.”. Uma criança de doze anos. Não, ela não vai esquecer. Vai se lembrar a cada amanhecer e a cada advento da lua. Vai sonhar com isso, terá pesadelos e, provavelmente, algum tipo de transtorno psicológico. E toda vez que seus pés adentrarem uma escola (sendo ou não o colégio-vítima) ela se lembrará.

Uma garota sobreviveu porque sua amiga se jogou na frente de um projétil que se enterrou em sua fronte. Eu imagino a culpa. O remorso que a sobrevivente sente de não ter podido agir contra isso. Os pais que não atenderam a chamada do celular da filha e, depois, descobriram que ela estava morta. O pai que encontrou a filha caída, ensanguentada e a descobriu nos braços da morte quando não percebeu sua respiração. Afinal, o que foi que aconteceu? Entendo que o assassino era provido de distúrbios mentais e que seus atos foram mosntruosos, mas e as crianças?! Imagens relatam que pais seguiram para o interior da escola. O que veio a minha mente em primeiro lugar foi: “Já pensou entrar numa sala de aula e dar de cara com seu filho morto?”. Pensem como seria. Ou melhor, deixem-me ajudar: você está em casa, arrumando a cozinha quando entram e te avisam sobre uma chacina no colégio que o seu filho estuda. Você larga tudo, dane-se a panela engordurada de ontem, o seu filho está la dentro. Seus olhos já derretem em lágrimas que salinizam suas bochechas, mas também não há preocupação para com elas – é preciso correr pela vida de sua prole. A rua do liceu está lotada, um verdadeiro inferno. E dá licença! Sai da frente! Eu preciso ver meu filho, moço! Consegue. O saguão de entrada recheado de jornalistas, empregados, pais, mães, amigos. As escadas estão abarrotadas de gritos e dores. Os policiais liberam a subida dos civis. Mais uma maratona. Você corre com toda a garra e força que nunca teve na vida, apavorado, rasgando os ares e mares, a selva de pernas, a confusão que tudo aquilo está. Terra à vista!, a classe de aulas de seu filhote está logo ali. A corrida torna-se ainda mais rápida. Sem dá licença, sem eu preciso passar. Só empurra todo mundo porque sua cria precisa de você. Alcança com uma mão o batente amadeirado da sala. Puxa seu corpo e entra, de súbito, no cômodo. Seu filho está lá. Está, sim. Jogado no chão, com um buraco no meio da testa. Os olhos estão abertos, ressecados. Você chora mais. Aproxima-se em velocidade na esperança de um milagre. Pega seu filho nos braços, o corpo está mole, inerte. Suas pupilas sem emoção, sem expressão, parecendo ter perdido a qualidade de humanas. Pálpebras entre-abertas, olhos mirados em você – mas não estão te olhando, você sabe disso (e é isso  que mais dói). As mãos que um dia se mexiam por própria conta não se entrelaçam mais em seus dedos. O cabelo tingido, os brincos brilhantes, toda a vaidade do ciclo natural da vida já não vale. E aquele corpinho tão frágil, tão carente de proteção, tão precioso não alegra mais o seu dia. Um beijinho não vai fazer sarar, muito menos as feridas haverão de cicatrizar antes do casamento. Ele não vai mais te ouvir, não vai mais sorrir pra você. Abraçar não vai deixar melhor, porque ele não vai te sentir. É então que você percebe que uma rua cheia de gente nunca foi o verdadeiro inferno.

Cadê?

Tão feliz pelo aumento das visitas! *-* Mas, cadê os meus leitores assíduos? Meus comentadores frequentes? Bia sumiu, Gu Castilho também. Paulo e Gu ainda se apresentam. Mas cadê vocês? Me dá saudades de ter aquelas conversas loucas. D: Apareçam (por favor?).

Beijinhos,

Letii

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