A menina que matava caracóis

Filosofias úteis, inúteis e outras coisas que você pode não precisar.

Arquivo para o mês “julho, 2009”

Eu gosto.

coisas_da_vidaE voltamos à vida. À vida da gente, coisa tão estranha… Objetivos que nunca cumprimos e que, hoje, nem nos preocupamos em atingir… Erros bobos que nos fazem arrepender sempre e grandes eventos que nem lembramos mais. A vida é, de longe, uma das coisas mais esquisitas que eu já vi. É uma dádiva, mas muitos não a querem. Deixa para nós o passado… Os amores jovens, as fotos de grupo. As melhores viagens do mundo que esquecemos. Os amigos que se separam, os inimigos que se juntam. E tudo para aprender. Aprender sobre tudo. As traquinagens e chiliques necessários, as brigas que nunca precisamos. A vida dá e tira. Porquê? Pra quê aprender se somos mortais? Bem, quem sabe, há algo além. Além desse mundo caótico que nos abriga, desse inferno que amamos. Quantas coisas vamos esquecer lá na frente? Teremos filhos? Viveremos o bastante para isso? Eu que mais. Nós queremos mais. Pra quê? Já disse, vamos morrer e isso é inevitável. Morreremos. Mas, aprenderemos, quem sabe, não precisamos disso depois de cadáveres? E não tenha medo. Esqueceremos de muitas coisas, sim. Mas há algo – que a própria morte me disse – que eu sinto que me lembrarei para sempre:

Eis um pequeno fato 
Você vai morrer.

• Reação ao fato supracitado 
Isso preocupa você?
Insisto – não tenha medo.
Sou tudo, menos injusta.

Sinceramente, eu não tenho medo da morte. Pelo menos, depois disso. Tenho medo de como ela acontecerá. Mas, isso é outro assunto. Creio que tenho mais medo da vida. Como ela será daqui a dois minutos? Hoje, eu aprendi uma coisa. Uma coisa que todos deveriam lembrar para sempre. Algo que deveríamos pensar todas as manhãs: “Hoje é o começo do resto da minha vida.”. Ah… Eu não deixaria nada passar em vão, depois disso. E espero que você também não. A vida é, sim, estranha. Nós, somos mais ainda. Se a morte é justa, porque não, a vida? Hm… Eu gosto dela. Da vida. Da morte. Eu gosto. Porque não gostar seria pior.

(*Primeira citação do livro A menina que roubava livros)

Orelha de Limão

orelha

Exposta. Foi assim que me senti. Eu não sabia como agir. Bem, creio que não saibam do quê exatamente eu esteja falando. Aconteceu há algum tempo, uma semana, creio eu. Fui no consultório do meu primo, em São Paulo. Demorou bastante pra chegar lá. É em um bairro menos favorecido, sabe? Bem, quando chegamos lá, eu me senti exposta, insegura. Nada contra, não me importa a classe social mas, eu não estava no meu espaço, sabe? Eu tive medo. Medo de agir errado. E se, sem querer, eu falo alguma coisa que não devia? Já pensou eu acabo me passando por exibida, estúpida, chata, ridícula ou qualquer coisa do tipo? E exposta. Totalmente exposta. Porque? Bom, estava na cara que eu não era de lá. É muito, muito estranho estar em um lugar ao qual você não pertence. É desconfortável. Na hora, deu vontade de mudar, sabe? Mudar tudo. Dá vontade de chegar pra eles e dizer: “Olha, vocês vão fazer isso, mudar aquilo e pá.”. Eu vi uma garota grávida. Não que isso dependa de classe social, só estou citando. E, deu vontande de chegar nela e falar: “aaah, sua idiota! Porquê?! Você não pode fazer isso! Você tem que esperar! Mas, se você quiser realmente fazer, pelo amor do santo Deus, usa camisinhaaaa! Agora, ó, eu vou te voltar no tempo e você vai fazer tudo certo, ok?” VUUUUUUUSH! A menina voltaria no tempo e arrumaria tudo. Além de, é claro, conscientizar as amigas e o resto do mundo. ¬¬° Deu uma sensação de impotência – que, na minha opinião, é uma das piores sensações que existem. Eu fiquei parada, olhando tudo aquilo, querendo fazer algo para ajudar, para melhorar e pensando em como toda aquela vontade era ridícula porque, obviamente, eu nunca poderia chegar pras pessoas e falar o que elas devem fazer! Mas, como o Flávio costuma dizer: “Só sei que nada sei”. E não sei mesmo. Se é estranho, é e acabou. Eu não sou de lá e eles não são de cá. Eu era uma patinha feia, uma orelha de limão (vide imagem). Eu era o Chewbacca e quero que se exploda. Já passou. 😉

Edição Especial – Eu não estou morta (final)

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Capítulo V – A simples, maldita e linda tatuagem da Betty
(final)

Meninas, suponho que tenham sentido a falta de Leonardo nesses últimos dias.
Sentimos.- Afirmou Betty.
Ele não aparece há dois dias.- Eu completei.
Tenho uma notícia sobre ele para dar à vocês.
Segurei a mão de Betty, apertando com força. Betty fez o mesmo.
O Leonardo… Ele… Faleceu esta noite, durante a madrugada.
Meu mundo desabou! Como poderia eu viver sem o Léo? Sem aquelas brincadeiras de mau-gosto? Sem o Léo? A Betty me abraçou. Só então, percebi que os pais de Léo estavam lá. A mãe dele estava com o rosto todo inchado e vermelho. O pai segurava a cabeça dela no ombro, tentando consolá-la. Saí correndo para o banheiro. Me tranquei em um box e lá fiquei. Gastei um rolo de papel higiênico enxugando minhas lágrimas. Ouvi o barulho da porta se abrindo.
Liz?
Era a Betty.
Liz, saia daí, eu sei onde você está.
Abri a porta do box e abracei Betty com toda a força que me restava.
Bê… Me fala que isso é só um pesadelo…
Desculpe, Liz, mas isso infelizmente não é um pesadelo.
Porquê, Bê? Porquê?
Porquê a vida é assim, Liz. Pessoas vão, pessoas vem, mas a vida sempre continua. Muitas vezes não temos chance de dizer “Adeus”, mas a vida é assim… Simplesmente assim… Vem, Liz, vamos sair daqui.
Quando saímos, encontramos os pais de Léo. A mãe dele me abraçou e disse que estava tudo bem, para eu me acalmar. Eu perguntei à ela o que Léo tinha feito quando chegou em casa.
Em casa?- Ela perguntou.
É, ele não morreu em casa?
Não, Liz. Ele ficou internado.
Ele não ouviu a mensagem que eu deixei no telefone?
Não, Liz.
Me senti culpada. Parecia que uma melancia estava sobre a minha cabeça.
Do que ele morreu?- Betty perguntou.
Ele… Havia feito uma tatuagem sem nossa permissão e… Teve infecção generalizada, ela já estava muito avançada, ficar no hospital só aumentou seu tempo de vida por alguns minutos.
Olhei para Betty. Ela assentiu com a cabeça, lembrando da conversa de ontem. Logo depois, o diretor apareceu. Disse que poderíamos ir embora mais cedo. Eu e Betty fomos até a portaria. Liguei para minha mãe. Contei o que havia acontecido. Minutos depois ela estava na porta da escola. Quando ela saiu do carro, corri até ela e a abracei como nunca havia abraçado.
Calma, Liz, calma…- Ela dizia enquanto também chorava. Minha mãe entrou no colégio, abraçou Betty e consolou os pais de Léo. Ficou sabendo a causa e o local da morte.
Vamos, Liz.- Ela disse.
Tchau, Betty. Se cuida.- Eu disse.
Até a próxima, Liz.
Entrei no carro. Não disse uma palavra até chegar em casa. Chegamos. A bicicleta ainda estava largada no quintal. Joguei meu material na sala. Subi correndo e me tranquei no quarto. Liguei o rádio e coloquei no último volume. Me joguei na cama e chorei até a hora do jantar. Alguém bateu na porta. Eu a destranquei e dei de cara com meu irmão, que me abraçou assim que me viu.
Liz, seu amiguinho vai voltar, né? Porque se ele não voltar, você vai ficar triste pra sempre e eu não quero ver você assim…
Não, Gu, ele não vai voltar.
Você vai fica triste para sempre?
Não sei, Gu. Talvez sim, talvez não… Agora tudo é possível…
Não fica triste, Liz, eu fico com você.
Valeu, Gu.
Me deitei na cama com o Gustavo. Ele acabou caindo no sono. Eu o cobri e o abracei. Também dormi. Acordei no outro dia. Acordei tarde. Achei estranho. O Gu não estava mais do meu lado, além disso, estava muito claro para ser a hora de acordar. “Ai, caramba! Eu faltei na escola!”, pensei. Eu não podia faltar na escola! Precisava saber se a Betty estava bem! Me vesti com qualquer roupa que encontrei, nem lembrava a cor do meu sutiã! Peguei a bicicleta e pedalei mais do que rápido para a escola. O porteiro não me deixou entrar na segunda aula, porque eu havia me atrasado uma hora. É claro que fiquei desesperada! Contei o que havia acontecido e o porteiro disse: “A vida é assim, Liz. Pessoas vão, pessoas vem, mas a vida sempre continua. Muitas vezes não temos chance de dizer ‘Adeus’, mas a vida é assim…”. Reconheci aquelas palavras! Betty havia me dito isso ontem!
Onde o senhor ouviu isso?
Uma garota chamada Betty ligou hoje cedo e me disse que se uma menina afobada e desesperada aparecesse por aqui, eu deveria dar esta mensagem. Suponho que seja você.
Sim… Sou eu… Ela veio hoje?
Não sei.
Posso entrar?
Só por causa de tudo isso que está acontecendo com você.
Tudo isso?
Seu amigo faleceu ontem, não?
Obrigada.- Eu não queria tocar naquele assunto.
Entrei correndo no corredor. Abri a porta da sala de aula sem bater. Não vi Betty. Deixei meu material cair no chão. Corri para o pátio. Peguei o celular e liguei para a Betty. A empregada atendeu.
Alô, Glória? É a Liz, eu preciso urgentemente falar com a Betty!
Iihh, fia. A Elizabeth tava pra módi muito mal. A dona Amélia teve que levá ela inté o hospital.
Desliguei o telefone. A professora apareceu com o meu material no pátio. Disse que sentia muito pelo que havia acontecido ontem e perguntou se eu queria ir embora. Eu nem respondi a pergunta: peguei meu material e fui embora.
Boa sorte!- Disse o porteiro quando eu passei por ele.
Pedalei até a esquina, foi quando me toquei que não sabia para onde estava indo. Estava sem rumo. Em qual hospital deveria me apresentar como amiga de Elizabeth Corel? Liguei para o celular da Betty. A mãe dela atendeu chorando.
Alô?
Dona Amélia? É a Liz!
Liz! Que bom que ligou! A Betty está…
No hospital, eu já sei…
Me desculpe não te avisar antes, é que com todas essas coisas acontecendo…
Está tudo bem, só que diga em que hospital ela está?
No Hospital São Francisco, no quarto 433.
Obrigada, já estou chegando aí.
Desliguei. Fui direto para o hospital, não parei pra nada, nem pra esperar o semáforo ficar verde. Quando cheguei, disse que ia visitar Elizabeth Corel, e que era a melhor amiga dela. A enfermeira mal me deixou entrar e eu já estava correndo pelo hospital procurando o quarto de número 433.
Betty!- Eu gritei quando entrei no quarto e vi a Betty na cama.
Oi, Liz…- Ela disse, ofegante.- Que bom que você veio…Recebeu meu recado?
Sim, recebi! Ai, Bê…
Vamos deixá-las sozinhas.- Disseram os pais da Betty, então, eles saíram da sala.
Bê, me desculpe, eu não deveria ter deixado você fazerem uma tatuagem sem seus pais deixarem!
Liz, não comece com todo esse drama de filme, você sabe que eu não ia te escutar…
Mas, como eu vou viver sem vocês dois? Eu não tenho mais amigos!
Liz, você é uma garota super legal, vai ser fácil arranjar amigos…
Pra você é fácil dizer isso, você nunca repetiu de ano e nem sofreu quinze micos a cada dia que passava…
Liz, eu sei que você vai arranjar novos amigos…
Betty, eu não vou conseguir dormir à noite, eu vou chorar muito…
Chore. Os seres humanos precisam chorar, é assim que demonstramos nossos sentimentos… Chore o quanto quiser, chore na escola, no quarto, no banheiro, onde você quiser, só não chore para sempre…
Tá… Eu vou chorar!
Liz…
O que foi?
Obrigada por ser minha amiga, por me acompanhar sempre, e, por favor, me perdoe se eu te fiz alguma coisa…
Você nunca fez nada de mal pra mim, Betty! Eu é que devo ter feito algo pra você…
Imagina, você não fez nada…
Pois é… A vida continua…
A vida continua…
Silêncio por alguns segundos.
Liz, me promete uma coisa?
Claro que prometo, Bê!
Promete pra mim, que você vai acordar todos os dias, se olhar no espelho e se orgulhar por ser a melhor amiga do mundo?
Só você pra dizer essas coisas, Betty…
Promete?
Prometo.
E também me promete que você não vai se sentir culpada por tudo o que aconteceu?
Prometo.
E que você nunca, nunca, nunca vai ficar sem amigos?
Prometo, Betty.
Então meu tempo aqui foi bem sucedido! Obrigada, Liz…
Por nada!
Ah, mas me promete uma coisa muito importante!
O quê?
Promete que você vai continuar a ser a mesma garota extrovertida, azarada,
cheia de camisetas sujas e sutiãs coloridos que você sempre foi!
Dei risada.
Claro que sim, Bê, principalmente a parte dos sutiãs coloridos!
E a parte do azar?
Essa nem tem como eu não ser!
Betty começa a tossir sem parar.
Bê, você está bem?
Liz, lembre-se, curta a vida, afinal, você não está morta… Pode mudar as coisas…
O coração dela pára de bater.
Bê! Bê, responde!- Eu fico chacoalhando a Betty, mas ela não reage. As enfermeiras chegam na sala, os pais da Betty choram mais ainda.
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Cheguei em casa e chorei. Chorei na sala, no quarto, na cozinha, no banheiro, na casinha do Roliço, no quintal, na porta do vizinho, na garagem. Fiz o que a Betty pediu. Chorei. Quando cheguei na escola, tive uma surpresa: no corredor, os alunos abriram caminho para mim, a professora de biologia me abraçou, recebi algumas flores e muitos pêsames. Conheci algumas pessoas novas, mas, por causa da situação, acho que demorarei alguns dias para me socializar.
No enterro do Léo e da Betty (os dois enterros foram no mesmo lugar), eu coloquei as flores que recebi no colégio nos caixões deles, no caixão do Léo, eu coloquei uma das fotos que ele mais gostava: Eu com a cara suja de bolo de baunilha; e no caixão da Betty, eu coloquei um papel, na verdade, um bilhete com três palavras, para ela nunca esquecer que “A vida continua…”.
Depois de algumas semanas, eu já tinha dois novos amigos: a Bia e o Joca. Nessas semanas, eu também descobri uma coisa: o Roliço, na verdade, era Roliça! Mas, não era por isso que ele, digo, ela estava gorda, ela estava gorda porque é gorda mesmo!
E se você querem saber, sim, eu fiz minha tatuagem! Claro que não foi com o Reinaldo! Mesmo porque, ele foi processado e preso! Por isso, se algum dia vocês virem uma garota com uma tatuagem de um cinto verde-limão na cintura, não pergunte como ela conseguiu convencer a mãe a deixá-la fazer uma tatuagem, só levante a camiseta dela (que provavelmente estará suja) e em cima do cinto verde-limão, você verá uma frase tatuada mais ou menos assim: “Achou o cinto estranho? É por que você ainda não viu a sola do pé…”.

Edição Especial – Eu não estou morta (capítulo IV, 2ª parte/capítulo V, 1ª parte)

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Capítulo IV – As duas simples, malditas e lindas tatuagens da Betty e do Léo
(parte II)

Voltei para casa pensando no que havia dito à Betty. “Não pode ser, a Betty e o Léo com infecção generalizada? Meus melhores amigos? Não… Eu não posso perdê-los…”, eu pensei. Comecei a chorar. Parei num ponto de ônibus, sentei no banco e chorei mais ainda. Não era possível! Eu não conseguiria viver sem os dois. A Betty sempre me apoiou em tudo o que eu fiz, e o Léo sempre fazendo aquelas brincadeiras bobas. Lembrei-me dos momentos que passamos juntos. Não nos conhecemos há muito tempo, mas nos conhecemos há tempo suficiente para saber que nada poderia acabar com nossa amizade. Me lembrei de quando tentamos fugir de casa. Dei risada, afinal, nós pulamos a janela e caímos do telhado. Meu celular tocou, interrompendo aquele momento tão íntimo. Era minha mãe me dizendo para ir pra casa. Saí pedalando bem devagar. Estava concentrada em meus pensamentos. Cheguei em casa e larguei a bicicleta no meio do quintal. Entrei em casa e corri pro meu quarto, acho que minha mãe nem me viu entrar. Peguei o telefone e liguei pro Léo. Caiu na caixa postal. “Léo, é a Liz. Eu só liguei pra te dizer que você pode sempre contar comigo, que eu gosto das suas brincadeiras e espero que você também goste das minhas. Me perdoe por qualquer coisa que eu tenha feito. Até mais.”, foi meu recado. Enfiei o rosto no travesseiro e chorei mais. Chorei tanto que acabei dormindo. Na verdade, cochilando. Acordei quinze minutos depois com a minha mãe me chamando pra jantar. Eu disse que não estava com fome. Tornei a pegar o telefone. Liguei pra Betty.

Alô?

­-Betty? É a Liz.

Ah, oi, Liz.

Betty, me desculpe pelo que eu falei. Eu fiquei nervosa na hora, achei que podia ser aquilo e acabei ficando com medo.

Tudo bem, Liz. Não tem problema. Eu é que estava errada. Eu fiquei mais assustada que você, acredite. Eu não queria acreditar naquela possibilidade. Você é que tem que me perdoar.

Está perdoada.

Obrigada.

Por nada… Bê, eu liguei pro Léo, deu na caixa postal, você conseguiu falar com ele, afinal, ele não apareceu na festa, né?

Pois é, eu não consegui também.

Será que tá tudo bem com ele?

Não se preocupe, Liz, deve estar tudo bem.

Espero vê-lo amanhã na escola.

Eu também.

Mas, acho que vou dormir agora, estou muito cansada. Amanhã eu levo sua roupa e seu presente na escola, tá?

Tá bom, Liz. Obrigada. Até mais!

Até!

Desliguei o telefone. Coloquei o pijama e levei a roupa que a Betty emprestou pra minha mãe lavar. Dei “boa-noite” para todos. Subi e me deitei.

 

Capítulo V – A simples, maldita e linda tatuagem da Betty
(parte I)

No outro dia, acordei exatamente na hora de acordar, mas decidi ficar na cama, até perceber que estava atrasada quarenta minutos. Não havia roupa limpa. Tive de colocar aquele vestido outra vez, mas dessa vez, com uma meia menos chamativa. Cheguei super atrasada na escola. Quando passei pelas salas de aula, a fita do vestido que fica em volta da cintura enroscou na dobradiça de uma das portas. Ela rasgou e eu tive de arrancá-la. Ficou uma marca em volta da minha cintura. Eu estava com sono, então passei no banheiro para lavar o rosto. Outra vez, a água escorreu e deixou meu sutiã colorido aparecendo. Entrei na sala e levei uma baita bronca da professora. Apesar de tudo o que aconteceu, não dei importância. Nada importava. Novamente, só avistei a Betty na sala. Temi pelo pior.

Oi, Betty.

Oi, Liz.

Me calei.

O que foi, Liz? Não me diga que ainda está pensando na conversa de ontem?

Estou.

Liz, não vai dar nada errado!

O Léo faltou de novo, Betty!

Eu sei, Liz… Eu também pensei no pior.

Eu não vou conseguir continuar sem vocês…

Liz, ninguém vai abandonar ninguém.

Vai, Betty. E você sabe que isso vai acontecer. Ser otimista não vai ajudar nada nessa situação.

A porta da sala se abre. É o diretor.

Será que eu poderia falar com a Elizabeth e a Eliza?

Claro.- Responde a professora.

Eu e a Betty nos levantamos. Eu sabia o que o diretor iria dizer, mas não queria acreditar. Queria crer que o que eu pensava era só um pressentimento. Pensar que encontraria o Léo gozando de boa saúde na diretoria. Parte desse pensamento saiu da minha cabeça e me fez acreditar no melhor. Entramos na sala do diretor. Ele pediu para sentarmos. Eu e Betty nos entreolhamos.

Edição Especial – Eu não estou morta (capítulo IV, 1ª parte)

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Capítulo IV – As duas simples, malditas e lindas tatuagens da Betty e do Léo
(parte I)

Para compensar o atraso de ontem, hoje eu acordei trinta minutos antes da hora de acordar! Eu desperdicei trinta minutos da minha vida me revirando na cama, tentando voltar a dormir! Quando eu levantei da cama coloquei uma calça jeans, meu All Star preto de cano alto, meu sutiã azul-piscina e fui ver se achava alguma camiseta. Para minha quase inexistente sorte, eu achei uma camiseta amarela. Desci para tomar café. Fiz um sanduíche delicioso! Até que hoje as coisas estão indo bem! Minha mãe nem reparou no pudim e meu pai (ele não aparece muito, mas, sim, eu tenho um pai!) não reclamou do serviço! Além disso, meu irmão nem reclamou pra minha mãe que eu não o pago pra fazer meu dever de casa de matemática, física, química, biologia e artes!

Quando cheguei na escola, a Betty veio me convidar pra festa de aniversário dela. Eu falei que eu iria, afinal, ela é minha melhor amiga. Depois, eu percebi que o Léo não estava na escola, e perguntei pra Betty porquê ele tinha faltado. Ela falou que não sabe, e que ia vê-lo depois da aula, porque ela ia convidá-lo e aí ela aproveitava e perguntava a razão da falta. Na aula de biologia, eu percebi que a professora não estava mais com o par de acerolas, ela estava com um par de uvas passas! Depois que eu perguntei porquê os limõezinhos (eu estava com sorte, por isso eu perguntei isso pra ela, mas chamar os “seios” dela de acerolas era muito arriscado!) estavam menores, ela me falou que havia virado doadora de um banco de leite da cidade vizinha (e não brigou comigo! Eu passei a aula inteira conversando com a Betty e ela nem se tocou!). Na hora do lanche, eu percebi que havia esquecido minha merenda em casa, mas, como a sorte que eu não tenho em dezessete anos resolveu aparecer de repente na minha vida, eu achei quinze reais (que eu peguei “emprestado” do zelador quando ele deixou a carteira caiu.) no meu bolso pra gastar com o que quiser! Comprei duas garrafas (de vidro) de refrigerante, um bolinho de groselha azul (eu sei que parece nojento, mas era o último e combinava com o meu sutiã!), uma esfiha de carne (que por acaso veio bem morena e recheada.) e um monte de bala de iogurte! Quando bateu o sinal de saída, eu percebi que em nenhuma das aulas foi dada lição de casa! Saí da escola com a Betty.

Bê, e a sua tatuagem? Continua vermelha?

Continua, e hoje eu acordei com um mal-estar…

Na área da tatuagem?

Quase isso, eu senti o mal-estar por dentro.

Como se fosse no músculo?

Não, como se fosse em algum órgão.

Nossa, é melhor você ir ao Reinaldo depois pra perguntar se isso é normal.

É, eu vou, sim, mas depois da minha festa!

Meu celular toca. É minha mãe dizendo que vai voltar pra casa mais cedo, por volta de umas três horas. Depois que eu desliguei o celular, falei pra Betty que era melhor eu ir indo. Fui pedalando pra casa, e por sorte, nenhum caderno meu caiu na rua! Quando cheguei em casa tive um pressentimento, e não era coisa boa. Eu achei que era bobagem minha, como alguma coisa ruim poderia acontecer naquele dia perfeito? Bom, talvez o “perfeito” desse dia pudesse ser tal coisa… Tentei tirar isso da cabeça, falei pra mim mesma: “Nada de mau vai acontecer!”. Então, quando esse pensamento pesado saiu da minha cabeça, eu peguei a chave para abrir a porta. Quando eu pus a chave na fechadura e a girei para abrir a porta, adivinha o que acontece? A chave quebra! Eu sabia que aquele dia estava perfeito demais! Bom, eu tive que esperar até às três da tarde pela minha mãe. Então eu aproveitei e liguei pra Betty, pra saber do Léo.

Oi, Betty!

Oi, Liz! Como vão as coisas?

Quebradas.

Como assim?

Minha chave quebrou, eu tenho que esperar minha mãe chegar.

Nossa, que azar!

Normal. Ah! Antes que eu me esqueça, e o Léo?

Eu acabei de bater na casa dele, nem ele nem os pais estavam lá.

Ele deve ter ido viajar.

No meio da semana?

Sei lá! O Léo é meio louco!

Bom, de qualquer forma eu deixei o convite da minha festa na caixa de correio. Você vem, né?

É claro!

Estarei te esperando!

Beijo!

Beijo, tchau!

Tchau!

Enquanto esperava minha mãe chegar, fiquei jogando pedrinhas no meio da rua. As pedrinhas estavam quase acabando, quando eu achei um pedaço de tijolo atrás de mim. Ele até que era grande. Então, eu o joguei pra ver se ele partia ao meio quando batesse no chão. Só que eu acabei jogando com mais força que o normal, e o pedaço de tijolo foi em direção à porta do meu vizinho gostosão canalha de vinte e sete anos. Bem na hora que o tijolo ía bater na porta, o vizinho decidiu ir jogar o lixo no container e abriu a porta. Nisso, o pedaço de tijolo bateu na testa dele! (Caso você esteja curioso, sim, o pedaço se partiu em dois!). Eu logo escondi a cara e comecei a mexer no pneu da minha bicicleta como se não quisesse nada. Uns quinze minutos depois que ele entrou, chegou uma mulher num carro de última geração e buzinou em frente à casa dele. Ele apareceu na janela e cumprimentou a mulher com um gesto. Depois ele saiu pela porta da frente vestido com um terno preto e uma gravata cor-de-vinho. Quando ele entrou no carro, ele deu um beijo na mulher, e na boca! Eu fiquei com tanta inveja dela que peguei uma pedrinha comprida e fina e joguei na direção da testa dela. Mas como minha rara sorte ainda não havia voltado de férias, a pedra acertou o espelho lateral do carro da mulher, e riscou o vidro do espelho! Eu peguei a bike e saí pedalando feito uma louca até virar a esquina! Quando cheguei na esquina, resolvi olhar pra ver se eles estavam me procurando. Quando eu olhei pra direção do carro, eu ouvi a mulher dizer: (obs.: minha casa é quase na esquina, por isso eu ouvi!) “Nossa, amor, o que foi isso?”. E o meu vizinho falou que não sabia! Ou seja, não fazia diferença eu sair pedalando feito uma louca varrida ou não!

Depois que os dois foram embora, eu voltei pra casa (pra porta de casa). Esperei umas duas horas até minha mãe chegar. Quando minha mãe chegou, perguntou porquê eu estava do lado de fora. Eu expliquei tudo e ela falou que depois do almoço levaria minha chave ao chaveiro. Depois do almoço (arroz queimado com feijão seco e ovo tostado), minha mãe saiu com meu irmão pra levar a chave pro chaveiro. Antes dela sair, eu fui me aprontar pra ir pro aniversário da Betty (Pois é, ele começa cedo, né?). Como era o aniversário da minha melhor amiga, eu coloquei uma das minhas melhores roupas: me vesti com uma regata e uma calça branca (e meu All Star preto, já que ele é meu único calçado… eu também tenho um chinelo, mas eu não ia de chinelo pra uma festa de aniversário!)!

Quando minha mãe saiu, ela trancou tudo e falou que não sabia que horas iria voltar, porquê ela tinha um monte de coisas pra fazer, então, ela falou que me ligava quando fosse para eu voltar.

Quando minha mãe virou a esquina e foi embora, eu me lembrei que esqueci o presente da Betty em cima da cama! “Eu falo pra Bê que eu levo o presente amanhã, na escola”. Eu pensei. Peguei a bicicleta e comecei a pedalar. Depois de uns cinco minutos que eu comecei a pedalar, eu senti um pingo no meu braço.

Ah, não! Eu sou azarada, mas nem tanto!- Eu falei pros meus botões. Mas eu estava enganada. Naquele dia, eu descobri que era a pessoa mais azarada do planeta Terra! Depois de uns três minutos, veio uma garoa, e depois, a garoa se tornou uma chuvarada do caramba! E eu estava toda vestida de branco e com meu sutiã azul-piscina! E meu sutiã ficou aparecendo! Eu pedalei o mais rápido que eu pude, até que vi uma loja de televisões e pensei: vou ficar debaixo do toldo! Quando fui pra debaixo do toldo, eu vi a reportagem na tevê: “Uma forte chuva atinge a região leste do estado”. Região leste? Região leste! Minha mãe foi pra região oeste do estado! Ou seja, ela não sabe que eu estou toda molhada e com o sutiã aparecendo! Como a casa da Betty não estava muito longe e a chuva tinha diminuído um pouco, (só um pouco mesmo!), eu decidi pedalar até a festa. Quando eu estava perto da rua da Betty, eu fui fazer uma curva, mas, a rua estava molhada (óbvio, estava chovendo!) e a bicicleta derrapou e eu caí no chão! Metade da minha calça ficou suja de terra! E ainda por cima, eu descobri que a minha calcinha arrebentou (porque era uma daquelas calcinhas de tanguinha… é que eu estava usando aquela calcinha porque quando eu fui pegar uma calcinha, ela caiu no chão e o Roliço destruiu minha calcinha! E a única que sobrou foi essa…)! Aí, eu tive que parar em uma lan house cheia de marmanjos, pra ir até o banheiro e amarrar as duas pontas.

Quando eu cheguei na casa da Betty, eu toquei a campanhia. Assim que ela me viu, ela falou:

Nossa, Liz! Você está toda molhada!

Betty, eu pedalei debaixo da chuva! Você queria que eu estivesse como?!

Vem, Liz, entra.

Eu peguei a bicicleta e entrei na casa da Bê. Cheguei na sala de estar e a mãe da Betty já veio falando: “Liz! Você veio debaixo dessa chuva! Porquê você não pediu para irmos te buscar?”, e toda aquela coisa de mãe preocupada de melhor amiga. Elas me levaram pra cima e a Bê foi pegar uma roupa dela pra eu vestir. Ela pegou uma camiseta azul clara e uma calça jeans. Tudo ia muito bem, até que a calça não serviu. A dona Amélia, mãe da Bê, pegou uma toalha para eu me secar e depois foi pegar alguma calça do irmão da Betty, o Bruno (uma calça da dona Amélia em mim ficaria larga). Enquanto a mãe da Betty mexia e remexia nas coisas do Bruno e eu secava a cabeça, a Betty me falou umas coisas…

Liz, será que eu posso te contar uma coisa?

Claro, Bê!

Esses dias eu estou me sentindo esquisita…

Como assim?

Lembra quando o Léo tremeu sem razão alguma?

Lembro.

Eu ando fazendo a mesma coisa! E eu também tenho calafrios e…

E?

Diarréia.

Que nojo, Betty!

Eu sei que é nojento… Obrigada por me dizer algo que vai me ajudar… Amiga-da-Onça!

Desculpa, Bê! É que só de pensar naquilo me revira o estômago!

Tá, tudo bem. Mas, e agora?

Bom, isso começou depois que você fez a tatuagem, não foi?

Liz, no que você está pensando?

Eu? Nada! Não estou pensando em nada!

Liz, no quê você está pensando?

Infecção generalizada…- Eu disse de cabeça baixa.

Da onde você tirou essa idéia, Liz?! Eu com infecção generalizada?!

O Léo também tremeu! E ele também fez tatuagem!

Mas o Léo foi viajar! Se ele estivesse mal ele não teria ido viajar!

A gente nem sabe se ele foi mesmo viajar! Ele pode estar internado num hospital agora mesmo!

Liz! Eu não acredito que você disse uma coisa dessas!

Mas essas coisas acontecem! Se o Reinaldo não tiver esterilizado a agulha com a qual ele fez as tatuagens, vocês dois podem estar com infecção generalizada! Eu só estou dizendo que pode acontecer!

Liz,- A dona Amélia veio me trazer a calça.- Tem essa calça aqui.

Eu peguei a calça, e enquanto me dirigia ao banheiro, olhei nos olhos da Betty e disse.

Só que pode acontecer…

Edição Especial – Eu não estou morta (capítulo III, 3ª parte)

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Capítulo III – As duas simples e malditas tatuagens
(3º parte)

Quando eu sentei (com todo mundo olhando pra mim.), o Léo me olhou e disse:

Você de rosa? O que aconteceu? Você foi abduzida?

É que minha mãe não me deixou vir de calça e sutiã.

Bom… Acho que não fez muita diferença, né?- Risadas. Que vontade de dar um soco nele!

Oi, Liz.- Pelo menos a Betty não zoa comigo.

Oi. E a tatuagem?

Está linda! Eu vim com uma blusa fechada nas costas de manhã e depois troquei por uma de costas abertas. Tá todo mundo falando dela!

Que bom! E a sua, Léo?

Bom, eu não posso ficar sem camisa na escola… Mas a tatoo está linda!

Não é mesmo, Liz?- A professora deve ter falado alguma coisa antes de me perguntar isso.

É!

O que é?

O que é o quê?- Ela tinha que perguntar pra mim!

Liz…

Porquê diabos você pergunta tudo pra mim?

Como?

Eu-vou-falar-bem-devagar-para-você-entender. Porquê-diabos-você pergunta-tudo-pra-mim?

Liz! Você vai acabar indo para a diretoria!

Se você não estiver lá, tudo bem!

Já para a diretoria!

Tá bom, tá bom… Mulher estressada!

Bom, aquela professora burra não fez ninguém me acompanhar, então, eu fui até o bar da esquina, comprei um refrigerante, comi uns donuts e voltei pra escola só na hora do almoço! (se você está se perguntando como eu consegui sair da escola sem ninguém me pegar, aqui vai a explicação: O porteiro da escola é um velho enrugado e quase cego e surdo, então, não é a coisa mais difícil do mundo!).

Na hora do almoço, eu voltei pra escola e encontrei a Betty e o Léo no pátio.

Você foi pra diretoria, Liz?

É claro que não, Léo! Você acha que esse açúcar que está na minha boca vem da onde? De algum doce que o diretor comprou?

Você conseguiu sair da escola sem ser vista?

Ah, pra fazer isso não precisa muito, né, Léo?

É… Concordo com você.

Gente, eu acho que não estou bem…

Porquê, Betty?

Eu também não estou…- O Léo e a Betty estão mal, será que é por causa da tatuagem?

O sinal tocou.

Eu posso esperar um pouco. O que vocês têm?

Acho que estou com um pouco de febre…

Nesse instante, o Léo começou a tremer e só parou depois de uns cinco segundos.

Você está com frio, Léo?- Eu só perguntei por perguntar, porque lá no pátio não estava frio.

Não, eu não sei porquê eu tremi.

Estranho. Gente, agora eu realmente tenho que ir. Espero que vocês não tenham nada!        

Pra onde você vai, Liz?

Léo, eu fui expulsa da sala de aula, se o diretor descobre que eu saí da escola, eu to ferrada!

Então, até mais, Liz!

Tchau, Bê!

Tchau, Liz!

Até, Léo!

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É óbvio que eu não fui pra casa, por quê se eu fosse, teria que explicar tudo pra minha mãe, e eu não quero ficar sem jantar de novo! Eu peguei minha bicicleta e fui dar uma volta no bairro. Já fazia uns quinze minutos que eu tinha saído da escola, quando eu fiquei com fome. Aproveitei que o supermercado estava logo ali do lado e resolvi compra alguma coisa. Entrei no supermercado e fui direto para a prateleira de salgadinhos e companhia. Peguei o maior pacote de salgadinho que achei e fui pro caixa. Quando eu cheguei no caixa, coloquei o pacote na esteira e peguei dinheiro no bolso. Enquanto eu tentava achar alguma nota de cinco reais entre papéis de balas e colas de prova no meu bolso, eu ouvi uma voz familiar…

Liz?

Quando eu olho para a moça do caixa, eu vejo a minha mãe toda maquiada com aquelas sombras verdes de caixa de supermercado! Como é que eu consegui esquecer que minha mãe trabalhava naquele supermercado como caixa?! Eu tomei a maior bronca da minha vida! Fiquei escutando minha mãe falar por uns trinta minutos! (e a fila do caixa crescendo…).

Mãe, tem gente na fila…

Liz! Você fugiu da escola e quer que eu me preocupe com as pessoas que estão na fila?!

Mãe, se você não atender as pessoas que estão na fila, eu não vou nunca mais para a escola! Nossa… Que boa idéia eu tive…

Liz, sente-se lá nas cadeiras do supermercado e me espere sair do serviço.

Mas o seu expediente acaba às seis!

Então, você vai esperar até eu acabar!

Mas, mãe…

Nada de mas, sente-se!

É… Parece que eu vou ficar sem jantar outra vez. E bem hoje que é dia de macarronada. Eu fiquei lá sentada (quando eu levantei pra ir embora minhas pernas estavam dormentes… Ou seja, nem levantar direito eu consegui ). Mas até que foi bom, lá no supermercado tem um monte de caras bonitinhos! Só que a maioria deles têm namorada! Mas, quando meu relógio apitou às dezesseis e quatorze da tarde (ele toca à essa hora, porque ele veio programado pra apitar essa hora e eu não consegui desprogramar.), sabe quem apareceu no supermercado? O meu vizinho saradão de vinte e sete anos! Eu mereço alguma sorte! Mas, minha sorte dura pouco, eu estava comendo meu salgadinho quando ele apareceu, então, ele falou “oi” pra mim (uma das únicas vezes!) e quando eu fui falar “oi” de volta, eu engasguei com o salgadinho e fiquei sem ar! (e eu entrei em estado de pânico! Eu fiquei me mexendo e parecia que eu tinha algum problema mental!) Daí, eu tive que cuspir aquela saliva amarelada no chão (quando eu cuspi, fiquei parecendo uma gaivota dando de comida pros filhotes!), e o gostosão ficou vendo tudo! Nem pra ele me ajudar! Nem pra ele me pegar por trás (nossa… que sensação!) e me apertar pra eu desengasgar! Ele ficou assistindo tudo com cara de nojo! E a pior parte, é que eu ainda gosto dele! Minha mãe ficou desesperada e quase chamou um helicóptero pra me socorrer! E depois de toda essa cena, eu ainda tive que limpar a gosma que eu cuspi no chão, porque minha mãe disse que eu não tinha nada melhor pra fazer! Aí só dava eu com aquele rodo enorme!

Quando acabou o expediente da minha mãe (finalmente!), eu fui pra casa com ela. Ela me deu sermão no estacionamento do mercado, no carro, em casa e até quando eu estava no banho! (A gente comprou sabonete antes de sair do supermercado.). Graças ao meu ótimo azar, eu não comi macarronada naquela noite. (Mas de madrugada eu desci escondida e comi um pouco de pudim…).

Edição Especial – Eu não estou morta (capítulo III, 2ª parte)

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Capítulo III – As duas simples e malditas tatuagens
(2ª parte)

No outro dia, eu acordei meia hora atrasada (eu falei que eu sou azarada! Só quero ver com que chave de ouro eu vou fechar o dia!). Mas eu tenho um bom motivo pra ter acordada atrasada! Me responda, se você sonhasse com o supermodelo sarado de vinte e sete anos da casa ao lado, você iria querer acordar? É claro que não! (na verdade, isso depende muito, se você for menino, aposto que não… A não ser que você seja gay, mas isso não vem ao caso…). Bom, por puro azar meu, minha mãe não lavou minhas camisetas, e a única roupa limpa que eu tinha era um vestido com florzinhas cor-de-rosa, cheio de lacinhos e fru-frus (que a minha tia solteirona me deu e eu nunca usei)! Deu vontade de colocar a calça e o sutiã e ir para a escola! Mas, quando eu desci de calça e sutiã, minha mãe não me deixou sair assim… Minha mãe é uma fresca, isso sim! Eu acabei me vestindo de Barbie. Aí ficou aquela coisa linda: uma adulta de dezessete anos vestida de Barbie, com o material todo preto, vermelho e branco! (que são as cores do rock.), e ainda por cima, com o esmalte preto descascado, munhequeira no braço direito, um monte de pulseira preta no braço esquerdo, brinco de caveira e um All Star preto de cano alto! (com uma meia três-quartos amarela… Mas eu abaixei as meias). Quando eu passei pelo corredor, todo mundo ficou me olhando e tirando sarro. Eu fui ao banheiro para me achar ridícula (patricinhas fazem isso, – e eu odeio patricinhas – mas, como era uma ocasião muito especial, não conta como um ato “patricinho”). Porém, o sinal tocou bem quando eu passava meu batom preto básico. Eu chegaria na hora para assistir à aula, se o sinal não me assustasse e me fizesse borrar o batom. Mas eu tinha que tomar um susto! Eu passei papel higiênico, mas acabei “pintando” minha cara de preto! Enfiei minha cara debaixo da pia e esfreguei até não poder mais! No que eu enfiei a cabeça na pia, a água escorreu água pela roupa (por incrível que pareça, os acidentes com água só acontecem comigo!). E o vestido, de era meio branco (sabe quando as florzinhas da roupa são pequenas, e parece que a roupa é da cor das flores, mas, na verdade, ele é branco e só as florzinhas são coloridas?), e eu estava com um sutiã verde claro, e aí, quando a água escorreu, ficou aparecendo aquele verde bebê! Como eu odeio esses acidentes!

Quando saí do banheiro, dei de cara com uma professora (que, infelizmente, era a professora de biologia – que, em vez de um par de seios tem duas acerolas -, e que, por acaso, me odeia, e eu, logicamente, retribuo tamanho sentimento).

Eliza! O que você está fazendo aqui? Faz dez minutos que o sinal tocou! E porquê você está toda molhada?

Pra mostrar os peitos que você não tem!- Brincadeira, eu não disse isso… Mas queria ter dito!

Vamos, vá para sua sala, vai, vai!

Quando ela virou de costas, eu lhe fiz um gesto não muito educado, mas que mostrava todo meu sentimento por ela!

Cheguei na sala de aula, bati na porta e entrei. A professora já tinha colocado um infinito de letras e números na lousa. Ainda bem que eu não estava lá quando ela passou tudo aquilo, senão eu já tinha dormido! Todo mundo começou a olhar pra mim e meu sutiã verde. Bom, pelo menos os meninos olharam pros meu “melões”, né? Ao menos alguma coisa boa…

Liz, o que aconteceu?- Professora chata, quer que eu fale na frente de todo mundo!

Eu olhei pra mim de baixo pra cima e falei:

A senhora quer mesmo que eu responda?

Não, vai sentar, Liz.

Edição Especial – Eu não estou morta (2ª parte do capítulo II e 1ª parte do capítulo III)

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Olha só, gente! Olha que tigre lindo! Olha que macho que eu fiquei!

Pra mim tá parecendo um magrela se achando o gostosão.

Ah! Cala a boca, Liz!

Mas tá parecendo mesmo…- Concordou Betty.

Só posso fazer uma pergunta?

Pode.

Se você tem que ficar com o plástico no peito, você não pode colocar a camiseta, pode?

Claro que posso, Liz!

Mas não vai ficar aparecendo um pouco? Por causa da irregularidade…

É mesmo! E agora, Rê? E se meus pais descobrirem?

Bom… Faça qualquer coisa, menos me dedurar!

Nossa… Valeu…

Vamos indo, Léo, a gente resolve isso no caminho!- Pra Betty tudo tem solução.

Eu vim de bike, e vocês?

A gente também veio de bici, menos a Betty… Eu tive que “carregar” ela na bicicleta!

Porquê você não veio de bike, Betty?

Ah… Não estava com vontade…

Bom, vamos indo?- Se eu não falasse isso, o Léo iria começar a reclamar da Betty, ainda bem que ele concordou em ir!

Claro…

Chegamos no ponto onde eu tinha que me separar deles.

Tchau, gente! Até amanhã!

Vejo você na escola, Liz!

Tá bom, Betty!

Até mais, Liz!

Tchau, Léo!

 

Capítulo III – As duas simples e malditas tatuagens

      Fui pra casa. Infelizmente, eu esqueci que estava com a camiseta suja e ao entrar em casa, me deparei com a minha mãe sentada na poltrona, com o casacão do lado dela, estava muito claro que ela estava me esperando chegar…

Eliza Cordel Pinheiros!- Nome horrível o meu, não? Tá aí uma boa razão pra me chamarem de Liz.- Você saiu vestindo uma camiseta suja?

Hum… Acho que sim…

Onde você arranjou essa camiseta?

Na minha gaveta de meias…

Eu não acredito que você fez isso!

Mas, mãe…

Nada de mas, você está de castigo!- Eu não sei por que cargas d’água as mães nos colocam de castigo! A gente nunca vai aprender mesmo!

Tá bom… Tá bom…

Subi e fui pro meu quarto, precisava de um banho urgente. Quando estava tomando banho, me lembrei de uma coisa MUITO importante: “EU ESQUECI DE FAZER A TATUAGEM!”. Não me conformei! Mas o pior de tudo não foi não ter feito a tatuagem, foi ter passado por tudo o que eu passei! Veja só minha situação: Eu saí de casa com um casaco ideal para ir esquiar, no dia mais ensolarado e quente do mundo, dei de cara com o meu vizinho gostosão, que ficou me olhando com a pior cara de bunda que eu já vi na vida; quando eu não podia mais colocar o casaco, descobri que minha camiseta (que já estava fedida e amassada) estava manchada de pasta de dente, e eu fiquei parecendo aquelas criancinhas de sete anos que não sabia nem limpar o traseiro, não podia entrar em casa para trocar de blusa, então eu joguei água na mancha durante uns dois minutos, pedalei a bicicleta do meu irmão (a minha bicicleta quebrou há uns dois meses, quando eu tentei pular a mesa de jantar da sala com ela), meus joelhos ficaram batendo no guidão durante todo o percurso, porque a bicicleta é muito pequena pra mim, pedalei feito uma condenada por uns três quilômetros, suei pra caramba e deixei a camiseta mais fedida ainda, cheguei no lugar, me passei de boba pra ninguém notar a pequena grande mancha d’água na minha blusa (porque a desgraçada não secou no caminho!), o que não deu muito certo e fez meus amigos zoarem comigo, dancei no meio da loja, fiz meu amigo se passar por um homossexual (essa parte até que foi legal…), fiquei conversando sobre dor com a minha melhor amiga durante uma hora e pouco, pedalei mais três quilômetros, cheguei em casa, levei bronca da minha mãe, fiquei de castigo, não vou jantar por causa do maldito do castigo (e hoje é dia de pizza!), e depois de tudo isso, além de não fazer a tatuagem, descobri que o sabonete acabou, e a última “fatia” dele caiu no ralo! Eu gostaria muito de conhecer alguém mais “sortudo” que eu! E pior ainda: eu não sei o que fiz pra merecer isso! (Talvez eu até saiba… Mas esqueci… É só pra dar um drama final… Por que eu sou a vítima!).

(Continua…)

Cartas inconclusas

Bem, minha gente. Recebi um texto lindíssimo do Henrique pra colocar no blog. Além disso, é bom dar um intervalinho no livro, cria mais suspense. =D Aqui vai, espero que gostem (eu gostei. 🙂)

carta

Tornei-me um expert em fazer cartas ou registros gráficos e, simplesmente, não concluí-las.Não sei qual a razão de tal procedimento, mas está se tornando uma constante em minha vida.Quanto mais tenho vontade de escrever para as pessoas que gosto, mais tenho vontade de não completar as cartas.Parece até que existe um pendência, algo para acontecer, que pode fazer com que a carta não termine ou que seja apagada.
Aconteceu com os meus antigos amores.Existe uma carta de reconciliação que nunca saiu da pasta “My documents” do meu computador para as linhas manuscritas.Tenho esperança que daqui a uns dez anos terei coragem pra entregá-la, isso se o destinatário não falecer.As minhas cartas inconclusas revelam os meus relacionamentos incompletos e escondem amargas decepções nos seus últimos parágrafos imaginários, tal qual uma fábula sem a “moral da história”.São registros difíceis de se concluir, difíceis de se por um ponto final.
O papel imprimiu registros de épocas maravilhosas e de períodos de confusão existencial.Eu era vítima dos relacionamentos e as cartas eram minhas vítimas.Vítimas de tudo o que eu achava e não tinha coragem pra falar, vítimas de tudo o que eu falava mas não sentia.Vítimas de um monólogo destrutivo.
Durante muito tempo elas foram meu consolo, e só depois descobri que elas eram feitas pra mim.Reler cartas não entregues têm sido um gratificante exercício de auto-avaliação.Nelas estão impressas marcas do meu comportamento e as provas das minhas mudanças conceituais ao longo da adolescência.Talvez daqui a algum tempo elas sirvam como um freio para as minhas ansiedades e sejam uma “chamada no saco” para alguns futuros deslizes.

“Se eu soubesse que esta longa estrada tem um fim
Que me permitisse, lá chegando, repousar
Mesmo se tivesse de aguardar por cem mil anos,
A esperança rebrotaria em meu coração.”
(Quadra 16, Omar Khayyam in Rubaiyat)

As cartas fazem que a esperança rebrote em meu coração. A longa estrada é a vida e seus percalços.Os percalços escrevem a minha história.Minha história está inconclusa.

 

Edição Especial – Eu não estou morta (Capítulo II, 1ª parte)

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Capítulo II – As simples duas tatuagens
(1ª parte)

Quando cheguei no Reinaldo, encontrei a Betty (minha melhor amiga… louca também…), e o Léo (meu melhor amigo… louco também…).

Liz!- o Léo me viu primeiro.- Veio fazer tatuagem?

Não, eu vim ver se eles não podiam pintar um quadro pra mim!- (Como é bom zoar com as pessoas, né?).

Ah, Liz… Tonta…- Ele ficou um pouco chateado… Fazer o que, né? DESchatear…

Que tatuagem vocês vão fazer?- Eu sou curiosa…

Bom,- Betty falando.- Eu vou fazer uma daquelas fadinhas singelas e meigas!

Daquelas que vem com um pirulito junto?

Pirulito? Você bebeu, Liz?

Não! Betty, é daquelas que vem com um pirulito junto?

Liz… É uma tatuagem…

Você vai fazer uma tatuagem, Betty?

Liz! Acorda! Nós estamos num lugar de fazer tatuagem! E, de que pirulito você está falando?

Esquece, Betty.- O Léo tinha que estragar tudo…- Ela só está fazendo isso pra gente não falar da mancha d’água na camiseta dela!- E aí ele cai na gargalhada… Devia ter caído mesmo…

Uia! É mesmo! O que aconteceu, Liz?

Muito obrigada, Leonardo…- Eu disse em tom irônico.

Por nada!- Será que ele nunca vai parar de rir?

É uma longa história…

Betty, você é a próxima!- Grita o Reinaldo.

Gente, eu já volto.

Tá bom, até mais! Léo, diga adeus.

Porquê eu tenho que dizer adeus?

Porque se você não morrer de rir até a tatuagem acabar, eu não sei o que acontece com você!- É claro que eu queria matá-lo de rir, porque foi aí que ele riu mais ainda! 

Adeus, Betty!

Tchau!

Demorou um bom tempo, mas o Léo parou de rir.

Então, Léo, que tatuagem você vai fazer?

Ah, eu tô querendo fazer uma tatuagem no peito, de um tigre siberiano. Demora um pouco, mas eu agüento…

Mas, seus pais deixaram, ou vocês vieram fazer escondidos?

E você acha que meus pais iriam deixar eu fazer uma tatoo?

-E os pais da Betty?

Também não deixaram…

E como vocês conseguiram fazer a tatuagem sem a autorização dos pais?

O Reinaldo é nosso amigo, a gente vai pagar em dinheiro e ele não vai deixar nada registrado. Mas, como é arriscado, nós vamos ter que pagar mais…

Será que eu também posso fazer uma?

Claro que pode! Você só precisa falar com o Rê…

Quanto custa?

Depende do tamanho… O que você que fazer?

Ah.. Isso é segredo…

Eu não acredito que você vai fazer suspense pra mim!

Pois pode acreditar!

Nossa, muito obrigado, viu?

Por nada!- HAHÁ! Ele tomou do próprio remédio!

Nunca mais falo com você!

Aham… Sei… Léo? Léo? Eu não acredito! Ele não vai mais falar comigo!- Como eu odeio (nem tanto…) ele!- Tá bom! Eu falo qual vai ser minha tatuagem!

Você sabia que eu te amo?- E começou a rir… Esse cara ri demais!

Eu quero fazer um cinto, obviamente na cintura, verde limão!

Essa foi boa! Então, qual vai ser sua tatuagem?

Um cinto verde limão.

Você tava falando sério?

Estava!

Você é louca!

Como se você não fosse…

Onde a Betty vai colocar a tatuagem?

Não sei, acho que é nas costas.

Hei! Ouve só que música está tocando!

Tô ouvindo… Que música é?

Sei lá! Mas é boa pra dançar!

Você não vai dançar aqui?

É claro que vou!

Eu não acredito nisso…

Vem dançar, Léo!

Liz, está todo mundo olhando!

E daí?

Liz, senta!

Porquê sentar? Tá legal aqui!

Eu vou fingir que não te conheço!

Eu paro de dançar se você pegar aquela bolsa cor-de-rosa, ali!

Mas aquela bolsa nem é minha!

Por isso mesmo! Você acha que eu iria te mandar pegar uma coisa que é sua?

Ah… Está bem, está bem…- Ele pegou a bolsa!

Ô, moça! Tem um homossexual roubando sua bolsa!- Muito legal fazer isso! A moça ficou tão brava que deu com a bolsa na cabeça dele! E eu não parei de dançar!

Nossa, além de ter uma bela de uma amiga, eu ainda levo bolsada na cabeça, sou taxado de gay e faço o Reinaldo perder cliente… E você não parou de dançar!

Pois é… Essa sou eu…

Gente! Olha que linda minha tatuagem!

Já terminou, Betty?- Eu achei que foi muito rápido…

É. Foi rápido porque eu só fiz o contorno da fada.

Ah…

Léo! Vem!- Era o Reinaldo chamando.

Bom, gente, até daqui a pouco!

Até!

Posso ver sua tatuagem, Bê?

Claro! Só que ela está com o plástico por cima, eu tenho que ficar com ele por alguns dias.

Tudo bem, eu consigo enxergar. Nossa, eu que não gosto de coisas mágicas de menininha gostei da sua tatoo!

Obrigada… Eu acho…

Eu e Betty conversamos por mais de uma hora. Estávamos falando da dor de fazer uma tatuagem, quando o Léo apareceu todo pomposo porque tinha o bendito do tigre tatuado no peito.

 (Continua…)

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