Capítulo IV – As duas simples, malditas e lindas tatuagens da Betty e do Léo
(parte I)
Para compensar o atraso de ontem, hoje eu acordei trinta minutos antes da hora de acordar! Eu desperdicei trinta minutos da minha vida me revirando na cama, tentando voltar a dormir! Quando eu levantei da cama coloquei uma calça jeans, meu All Star preto de cano alto, meu sutiã azul-piscina e fui ver se achava alguma camiseta. Para minha quase inexistente sorte, eu achei uma camiseta amarela. Desci para tomar café. Fiz um sanduíche delicioso! Até que hoje as coisas estão indo bem! Minha mãe nem reparou no pudim e meu pai (ele não aparece muito, mas, sim, eu tenho um pai!) não reclamou do serviço! Além disso, meu irmão nem reclamou pra minha mãe que eu não o pago pra fazer meu dever de casa de matemática, física, química, biologia e artes!
Quando cheguei na escola, a Betty veio me convidar pra festa de aniversário dela. Eu falei que eu iria, afinal, ela é minha melhor amiga. Depois, eu percebi que o Léo não estava na escola, e perguntei pra Betty porquê ele tinha faltado. Ela falou que não sabe, e que ia vê-lo depois da aula, porque ela ia convidá-lo e aí ela aproveitava e perguntava a razão da falta. Na aula de biologia, eu percebi que a professora não estava mais com o par de acerolas, ela estava com um par de uvas passas! Depois que eu perguntei porquê os limõezinhos (eu estava com sorte, por isso eu perguntei isso pra ela, mas chamar os “seios” dela de acerolas era muito arriscado!) estavam menores, ela me falou que havia virado doadora de um banco de leite da cidade vizinha (e não brigou comigo! Eu passei a aula inteira conversando com a Betty e ela nem se tocou!). Na hora do lanche, eu percebi que havia esquecido minha merenda em casa, mas, como a sorte que eu não tenho em dezessete anos resolveu aparecer de repente na minha vida, eu achei quinze reais (que eu peguei “emprestado” do zelador quando ele deixou a carteira caiu.) no meu bolso pra gastar com o que quiser! Comprei duas garrafas (de vidro) de refrigerante, um bolinho de groselha azul (eu sei que parece nojento, mas era o último e combinava com o meu sutiã!), uma esfiha de carne (que por acaso veio bem morena e recheada.) e um monte de bala de iogurte! Quando bateu o sinal de saída, eu percebi que em nenhuma das aulas foi dada lição de casa! Saí da escola com a Betty.
–Bê, e a sua tatuagem? Continua vermelha?
–Continua, e hoje eu acordei com um mal-estar…
–Na área da tatuagem?
–Quase isso, eu senti o mal-estar por dentro.
–Como se fosse no músculo?
–Não, como se fosse em algum órgão.
–Nossa, é melhor você ir ao Reinaldo depois pra perguntar se isso é normal.
–É, eu vou, sim, mas depois da minha festa!
Meu celular toca. É minha mãe dizendo que vai voltar pra casa mais cedo, por volta de umas três horas. Depois que eu desliguei o celular, falei pra Betty que era melhor eu ir indo. Fui pedalando pra casa, e por sorte, nenhum caderno meu caiu na rua! Quando cheguei em casa tive um pressentimento, e não era coisa boa. Eu achei que era bobagem minha, como alguma coisa ruim poderia acontecer naquele dia perfeito? Bom, talvez o “perfeito” desse dia pudesse ser tal coisa… Tentei tirar isso da cabeça, falei pra mim mesma: “Nada de mau vai acontecer!”. Então, quando esse pensamento pesado saiu da minha cabeça, eu peguei a chave para abrir a porta. Quando eu pus a chave na fechadura e a girei para abrir a porta, adivinha o que acontece? A chave quebra! Eu sabia que aquele dia estava perfeito demais! Bom, eu tive que esperar até às três da tarde pela minha mãe. Então eu aproveitei e liguei pra Betty, pra saber do Léo.
–Oi, Betty!
–Oi, Liz! Como vão as coisas?
–Quebradas.
–Como assim?
–Minha chave quebrou, eu tenho que esperar minha mãe chegar.
–Nossa, que azar!
–Normal. Ah! Antes que eu me esqueça, e o Léo?
–Eu acabei de bater na casa dele, nem ele nem os pais estavam lá.
–Ele deve ter ido viajar.
–No meio da semana?
–Sei lá! O Léo é meio louco!
–Bom, de qualquer forma eu deixei o convite da minha festa na caixa de correio. Você vem, né?
–É claro!
–Estarei te esperando!
–Beijo!
–Beijo, tchau!
–Tchau!
Enquanto esperava minha mãe chegar, fiquei jogando pedrinhas no meio da rua. As pedrinhas estavam quase acabando, quando eu achei um pedaço de tijolo atrás de mim. Ele até que era grande. Então, eu o joguei pra ver se ele partia ao meio quando batesse no chão. Só que eu acabei jogando com mais força que o normal, e o pedaço de tijolo foi em direção à porta do meu vizinho gostosão canalha de vinte e sete anos. Bem na hora que o tijolo ía bater na porta, o vizinho decidiu ir jogar o lixo no container e abriu a porta. Nisso, o pedaço de tijolo bateu na testa dele! (Caso você esteja curioso, sim, o pedaço se partiu em dois!). Eu logo escondi a cara e comecei a mexer no pneu da minha bicicleta como se não quisesse nada. Uns quinze minutos depois que ele entrou, chegou uma mulher num carro de última geração e buzinou em frente à casa dele. Ele apareceu na janela e cumprimentou a mulher com um gesto. Depois ele saiu pela porta da frente vestido com um terno preto e uma gravata cor-de-vinho. Quando ele entrou no carro, ele deu um beijo na mulher, e na boca! Eu fiquei com tanta inveja dela que peguei uma pedrinha comprida e fina e joguei na direção da testa dela. Mas como minha rara sorte ainda não havia voltado de férias, a pedra acertou o espelho lateral do carro da mulher, e riscou o vidro do espelho! Eu peguei a bike e saí pedalando feito uma louca até virar a esquina! Quando cheguei na esquina, resolvi olhar pra ver se eles estavam me procurando. Quando eu olhei pra direção do carro, eu ouvi a mulher dizer: (obs.: minha casa é quase na esquina, por isso eu ouvi!) “Nossa, amor, o que foi isso?”. E o meu vizinho falou que não sabia! Ou seja, não fazia diferença eu sair pedalando feito uma louca varrida ou não!
Depois que os dois foram embora, eu voltei pra casa (pra porta de casa). Esperei umas duas horas até minha mãe chegar. Quando minha mãe chegou, perguntou porquê eu estava do lado de fora. Eu expliquei tudo e ela falou que depois do almoço levaria minha chave ao chaveiro. Depois do almoço (arroz queimado com feijão seco e ovo tostado), minha mãe saiu com meu irmão pra levar a chave pro chaveiro. Antes dela sair, eu fui me aprontar pra ir pro aniversário da Betty (Pois é, ele começa cedo, né?). Como era o aniversário da minha melhor amiga, eu coloquei uma das minhas melhores roupas: me vesti com uma regata e uma calça branca (e meu All Star preto, já que ele é meu único calçado… eu também tenho um chinelo, mas eu não ia de chinelo pra uma festa de aniversário!)!
Quando minha mãe saiu, ela trancou tudo e falou que não sabia que horas iria voltar, porquê ela tinha um monte de coisas pra fazer, então, ela falou que me ligava quando fosse para eu voltar.
Quando minha mãe virou a esquina e foi embora, eu me lembrei que esqueci o presente da Betty em cima da cama! “Eu falo pra Bê que eu levo o presente amanhã, na escola”. Eu pensei. Peguei a bicicleta e comecei a pedalar. Depois de uns cinco minutos que eu comecei a pedalar, eu senti um pingo no meu braço.
–Ah, não! Eu sou azarada, mas nem tanto!- Eu falei pros meus botões. Mas eu estava enganada. Naquele dia, eu descobri que era a pessoa mais azarada do planeta Terra! Depois de uns três minutos, veio uma garoa, e depois, a garoa se tornou uma chuvarada do caramba! E eu estava toda vestida de branco e com meu sutiã azul-piscina! E meu sutiã ficou aparecendo! Eu pedalei o mais rápido que eu pude, até que vi uma loja de televisões e pensei: vou ficar debaixo do toldo! Quando fui pra debaixo do toldo, eu vi a reportagem na tevê: “Uma forte chuva atinge a região leste do estado”. Região leste? Região leste! Minha mãe foi pra região oeste do estado! Ou seja, ela não sabe que eu estou toda molhada e com o sutiã aparecendo! Como a casa da Betty não estava muito longe e a chuva tinha diminuído um pouco, (só um pouco mesmo!), eu decidi pedalar até a festa. Quando eu estava perto da rua da Betty, eu fui fazer uma curva, mas, a rua estava molhada (óbvio, estava chovendo!) e a bicicleta derrapou e eu caí no chão! Metade da minha calça ficou suja de terra! E ainda por cima, eu descobri que a minha calcinha arrebentou (porque era uma daquelas calcinhas de tanguinha… é que eu estava usando aquela calcinha porque quando eu fui pegar uma calcinha, ela caiu no chão e o Roliço destruiu minha calcinha! E a única que sobrou foi essa…)! Aí, eu tive que parar em uma lan house cheia de marmanjos, pra ir até o banheiro e amarrar as duas pontas.
Quando eu cheguei na casa da Betty, eu toquei a campanhia. Assim que ela me viu, ela falou:
–Nossa, Liz! Você está toda molhada!
–Betty, eu pedalei debaixo da chuva! Você queria que eu estivesse como?!
–Vem, Liz, entra.
Eu peguei a bicicleta e entrei na casa da Bê. Cheguei na sala de estar e a mãe da Betty já veio falando: “Liz! Você veio debaixo dessa chuva! Porquê você não pediu para irmos te buscar?”, e toda aquela coisa de mãe preocupada de melhor amiga. Elas me levaram pra cima e a Bê foi pegar uma roupa dela pra eu vestir. Ela pegou uma camiseta azul clara e uma calça jeans. Tudo ia muito bem, até que a calça não serviu. A dona Amélia, mãe da Bê, pegou uma toalha para eu me secar e depois foi pegar alguma calça do irmão da Betty, o Bruno (uma calça da dona Amélia em mim ficaria larga). Enquanto a mãe da Betty mexia e remexia nas coisas do Bruno e eu secava a cabeça, a Betty me falou umas coisas…
–Liz, será que eu posso te contar uma coisa?
–Claro, Bê!
–Esses dias eu estou me sentindo esquisita…
–Como assim?
–Lembra quando o Léo tremeu sem razão alguma?
–Lembro.
–Eu ando fazendo a mesma coisa! E eu também tenho calafrios e…
–E?
–Diarréia.
–Que nojo, Betty!
–Eu sei que é nojento… Obrigada por me dizer algo que vai me ajudar… Amiga-da-Onça!
–Desculpa, Bê! É que só de pensar naquilo me revira o estômago!
–Tá, tudo bem. Mas, e agora?
–Bom, isso começou depois que você fez a tatuagem, não foi?
–Liz, no que você está pensando?
–Eu? Nada! Não estou pensando em nada!
–Liz, no quê você está pensando?
–Infecção generalizada…- Eu disse de cabeça baixa.
–Da onde você tirou essa idéia, Liz?! Eu com infecção generalizada?!
–O Léo também tremeu! E ele também fez tatuagem!
–Mas o Léo foi viajar! Se ele estivesse mal ele não teria ido viajar!
–A gente nem sabe se ele foi mesmo viajar! Ele pode estar internado num hospital agora mesmo!
–Liz! Eu não acredito que você disse uma coisa dessas!
–Mas essas coisas acontecem! Se o Reinaldo não tiver esterilizado a agulha com a qual ele fez as tatuagens, vocês dois podem estar com infecção generalizada! Eu só estou dizendo que pode acontecer!
–Liz,- A dona Amélia veio me trazer a calça.- Tem essa calça aqui.
Eu peguei a calça, e enquanto me dirigia ao banheiro, olhei nos olhos da Betty e disse.
–Só que pode acontecer…