A menina que matava caracóis

Filosofias úteis, inúteis e outras coisas que você pode não precisar.

Desistência

 

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Sinceramente, eu não sei o que houve. O toque fantasioso de deleite do violino me conduz por um fio de dor muitíssimo implícito, mas dilacerante. Ninguém acredita no que eu falo. Ninguém quer entender o que eu digo. Sinto-me tão extremamente culpada por dizer que sou sozinha – quando há uma família inteira querendo meu bem e gente tão preciosa zelando tanto por mim. Mais uma vez, digo que meu problema e ser consciente demais. É uma tristeza estreita e de um negro brilhante que percorre a música e penetra em mim, causando uma agonia torturante por não se deixar identificar. Sinto-me tão extremamente culpada, mas as pessoas não querem raciocinar o que eu digo. A pronta reação de todos é agir como se o problema fosse algo tão pequeno e de tão pronta solução que negam quaisquer outros adjetivos que eu cuspir.

Sinceramente, eu desisti. Desisti de falar com qualquer um. Com meus pais, com o Matheus – minha irmã, nunca tentei porque não vale a pena, afinal, “eu estou assim porque nunca sei fazer nada”. Não posso ser mas verdadeira quando falo que adoroamo a ajuda que todos eles querem me dar – mas não suporto mais. Sabe o que é NADA adiantar? Eu fico bem por aquela noite e pronto, acabou. Tentei falar com psicólogos (duas, para ser mais exata), mas posso passar a semana inteira ensaiando e sentindo TUDO o que quero dizer e certamente sairei de lá sem ter contado um terço do que planejava. Eu não consigo mais falar com as pessoas. Eu não consigo mais organizar meus pensamentos. São crises de choro espontâneas, oriundas de fatos tão cotidianos e ridículos os quais me envergonham dizer por tamanha insignificância; são ataques de ansiedade antes de dormir, sentindo a solidão e o medo unirem-se e me inflarem de fora para dentro, levitando-me numa corrente de terror tortuoso. Não desisti da vida, não. Na verdade, eu nunca tive coragem para o suicídio  e acho que nem tanta vontade assim. Mas eu me mato, sim, aos poucos. Arranjo-me ainda mais problemas (desnecessários, ainda por cima). Privo-me do sono, corroo-me na fome. Liberto a perdição do olhar em um ponto randômico, a carne murcha por um momento. Entristeço-me de propósito. Já tentei emagrecer até a morte (ao menos morreria mais bonita e as pessoas teriam mais atenção em mim. Inclusive, minha real atenção não era morrer, era ter gente por perto preocupando-se toda a preocupação que eu sempre quis). Já tentei vomitar o almoço em casa e o jantar na faculdade – mas nem para isso eu sirvo. Sou incapaz de provocar o vômito, completamente incompetente. Já tentei ficar na cama o dia inteiro, mas não posso competir com pedidos maternais. E eu não quero falar para ninguém, porque não me trarão atenção: trarão lições de moral, sermões que não desejo, uma preocupação desnorteada por não querer entender o que está acontecendo.

Sinceramente, não me importo [agora] em passar o resto da vida quieta. O que me incomoda é pensar em passar o resto dos dias sem dizer a verdade à minha mãe, maior e exímia protetora de mim de toda a vida. Do meu pai, minha fortaleza de segurança. Do Matheus, minha paixão incondicional e fiel escudeiro. Da Professora Patrícia, minha companheira de voz branda e compreensiva. Não me importo em calar-me o resto da vida ou o tempo necessário – me importa que não me respeito. Entendo que não consiga fazer nada certo, mas respeito é o mínimo da educação e convivência em sociedade. Eu não quero sentir minha insignificância, por mais que ela seja verdadeira. Eu quero um filho, dois, três, para amar alguém que tenho certeza absoluta que me ama também, pois eu lhe darei amor. Quero filhos para saber que posso acertar com alguém. Quero filhos que digam que me admiram, que querem ser como eu. Quero filhos que ache lindos e inocentes. Eu quero acertar com alguém. Eu quero ensinar alguém. Eu quero precaver todos os erros que causei, todas as lanças que me atingiram. Quero cuidar. Sinceramente, não sei mais o que fazer.

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10 opiniões sobre “Desistência

  1. Rapha em disse:

    Não desista do que é importante para você. As vezes nos sentimos assim mesmo, só não podemos nos deixar abater.

    O My Life está completando 4 aninhos hoje e tem promoção nova. Na verdade é só sugerir um tema para um texto, eu faço o post e coloco seu nome + o link do seu blog falando que foi você a sugerir aquele assunto.

    Dá uma conferida >> http://mylife-rapha.blogspot.com.br/2014/03/4-anos-de-my-life.html

    Beijos

  2. Olha, mesmo que isso seja difícil, não a nada nesta vida que não passe ou que a gente não se acostume. É uma regra básica… Mas não fica esperando, quando você se sentir só, ou quando quiser alguém pra conversar, seja você a sua melhor companhia. Nós sempre teremos a nós mesmo.

    Boa tarde, bjos.

  3. Meu, MEU, meu, M E U
    Tanta saudade de você, e eu, como você, não postava desde dezembro passado.
    Postei ontem e isso foi bom demais.
    Vim ler sua última postagem e: incrível! Sabe porquê? Pois discreve perfeitamente meu estado de espírito atual, o qual na verdade estou me esforçando para passar para trás. É isso.
    Lê, não sei quando lerá isso, mas quando ler: ó um BEIJO SUA LINDA!

  4. Eu tinha deixado um comentário grande aqui, mas deu pau e não enviou. Só pra dizer que o nome do seu blog me veio na cabeça e fiquei com saudade de lê-lo! Esse texto tá sensacional e poderia ter sido escrito por mim (se eu escrevesse bem que nem você). Espero que volte a escrever aqui.
    Um beijo de uma antiga leitora!

  5. Olha, acredite em uma coisa, existem fases em nossas vidas. Já passei por muitos momentos de crise de identidade, de depressão (mesmo que passageira) e momentos em que questionei minha vida e existência. Porém são fases. O importante é você começar a descobrir quem é você, e depois você procura a descobrir o que você quer fazer e assim por diante. Primeiramente procure conhecer você que tenho certeza que tem muita coisa boa oculta aí. 😉 Um beijo linda!

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